bIFUSP

ANO XVIII - No.17 - 07/06/2002


ÍNDICE


EDITORIAL

Este número do BIFUSP traz duas contribuições para as discussões a respeito do Ensino no IFUSP. Uma delas, encaminhada pelo Prof. Ricardo Galvão, inclui várias propostas específicas para o curso de Bacharelado. O outro texto, intitulado "Forma e Conteúdo", do aluno de pós-graduação Luciano Barosi de Lemos é excelente, crítico e muito bem articulado: é com muita satisfação que o publicamos. Além dessas duas contribuições, nesta semana o leitor poderá conhecer detalhes a respeito das atividades do Grupo de Simulação Computacional em Materiais, continuando a série de textos que tem sido enviada por iniciativa da Comissão de Pesquisa.

Como os leitores deste Informativo já devem ter percebido, não consigo ocultar meu entusiasmo por textos enviados pelos nossos alunos, extravasando, talvez, obrigações e limites que o ofício de Editor me impõe. Por que me entusiasmo?

Meu entusiasmo não significa concordar com esta ou aquela opinião. Em verdade, eu tenho as minhas próprias opiniões, que não serão aqui expressas na condição de Editor. Meu entusiasmo é por um outro motivo. Quando eu era aluno do IFUSP, eu e muitos colegas sentíamos falta de um espaço para o livre debate de idéias. Ouvíamos bastante, mas eram poucas as possibilidades para nos fazermos ouvir. Também naquela época, como provavelmente em todas as épocas, havia justa insatisfação. Contudo, não existiam muitos canais para divulgarmos nossas idéias. Agora temos a satisfação de ver alunos que, por sua própria iniciativa, enviam textos para o nosso Boletim, textos críticos, adequadamente escritos, sem incorreções graves que os invalidem, contribuições que, por envolverem opiniões, podem ser contestadas por alguns, aplaudidas por outros, mas que têm o enorme mérito de se abrirem ao debate público e através dele contribuir para o tão difícil exercício do diálogo.

Eacute; por isso que me entusiasmo e elogio quando recebo contribuições de nossos alunos.

Editores não tomam partido, porém emocionam-se. E emoções compartilham-se.

Peço desculpas aos leitores por ocupar este espaço privilegiado do Editorial de maneira um tanto extensa, mas pareceu-me oportuno proceder a tal esclarecimento.

Prof. Nelson Fiedler-Ferrara


CONSIDERAÇÕES SOBRE O CURSO DE BACHARELADO EM FÍSICA

Ricardo Galvão

É muito salutar ver o problema do ensino de Física voltar a despertar o interesse de nossa comunidade. Após tentativas fracassadas de formação de um Grupo de Trabalho para avaliar a qualidade do ensino ministrado no Instituto e propor as correções ou reformas curriculares necessárias, considero oportuna a iniciativa do Editor do Boletim Informativo em utilizá-lo como veículo para divulgação de idéias e propostas por alunos e professores. Tenho esperança que a apresentação de um amplo espectro de opiniões possa resultar na consolidação de um projeto de ensino consistente, enxuto e eficiente, tanto para os cursos de Bacharelado como de Licenciatura. Em particular, a recente iniciativa do CEFISMA demonstra uma madura preocupação dos alunos com sua própria formação, que deve receber a devida atenção do corpo docente.

Atendendo convite do Professor Nelson Fiedler-Ferrara, gostaria de tecer algumas considerações sobre o Curso de Bacharelado em Física. Embora considere a formação de professores um dos objetivos mais nobres de nossa missão como educadores, não farei comentários sobre o Curso de Licenciatura, por falta de conhecimento e experiência. Assim evito cair na armadilha da "soberba da ignorância", que infelizmente transparece em algumas considerações sobre ensino que têm sido divulgadas no Instituto.

Normalmente nossas opiniões são formadas principalmente com base em experiências passadas. Por isso, creio ser importante fazer um pequeno preâmbulo sobre a minha trajetória como estudante e professor. Não sou formado em Física, mas em Engenharia Elétrica. Durante a pós-graduação fui gradualmente me especializando em Física. Acredito que essa transição me permitiu adquirir uma visão da estrutura essencial da formação em Física, vindo de fora e tendo já passado por uma experiência educacional em outra área de ciências exatas.

Já no "Curso Científico" sentia-me bastante atraído por Física. No entanto, nessa área, o único curso de bom nível que havia no início da década de sessenta, no Rio de Janeiro, era o da PUC. Como sabia que meus pais não teriam condições de me sustentar na Faculdade, muito menos pagar mensalidades, resolvi fazer o Curso de Engenharia na Universidade Federal Fluminense, em Niterói, onde morava. Felizmente o curso básico na Escola de Engenharia foi de excelente nível, com bons professores, tanto em Física como em Matemática. Isto me permitiu adquirir não somente uma boa formação básica, mas também o treinamento e a disciplina essenciais para o aprendizado em ciências exatas. Em meados do segundo ano me tornei monitor de Física, auxiliando em experiências de laboratório, e passei a lecioná-la em alguns colégios de Niterói. Assim, a Física passou a me atrair cada vez mais e se tornou a fonte de meu sustento durante o curso de graduação.

Ao iniciar o curso profissional, fiquei bastante decepcionado. A maior parte dos cursos era de nível sofrível e os laboratórios de muito baixa qualidade. Por isso, no final do terceiro ano estava pensando em abandonar a engenharia e me transferir para a PUC. O que ganhava como professor secundário daria para pelo menos pagar as mensalidades. Quando estava quase decidido, aconteceu algo que alterou totalmente meus planos. O professor de medidas elétricas deixou o curso e veio substitui-lo uma pessoa que foi importantíssima em minha formação, o Professor Bernard Gross, que na ocasião estava no Instituto Nacional de Tecnologia, do Rio de Janeiro. Ainda tenho viva na memória a cena dele subindo lentamente o Morro do Valonginho, para nos agraciar com aulas cuidadosamente preparadas e metodicamente ministradas, num simpático sotaque alemão. Ao saber que era físico, procurei conhecer suas idéias sobre a carreira em Física, externando as preocupações que me afligiam e buscando alguma orientação.

A sua orientação foi dada de uma forma simples e direta, talvez um reflexo do pragmatismo alemão e de seu perfil experimental. De acordo com minhas lembranças, as suas idéias podem ser expressas da seguinte forma. A formação em Física começa com um sólido aprendizado dos conceitos básicos e treinamento intensivo nas técnicas de Física e Matemática, no nível dos cursos ministrados no primeiro e segundo anos do Ciclo Básico. Sobre essa base ergue-se uma "Coluna Mestre", que sustenta todas as diferentes especializações em Física, formada por Mecânica Clássica, Eletromagnetismo e Mecânica Quântica. Como eu já estava terminando o curso de Eletromagnetismo para Engenharia Elétrica, ele sugeriu que eu concluísse o curso de Engenharia, estudando em paralelo Mecânica Clássica em maior detalhe, utilizando o livro do Symon, e Física Moderna, utilizando o Eisberg e o Alonso-Finn. Segundo ele, com esse preparo eu poderia posteriormente seguir um curso de pós-graduação em Física sem dificuldades. Foi o que fiz. Olhando para trás, vejo que talvez ele não tenha mencionado que um bom preparo em Física Matemática também seria essencial no meu aprendizado, porque sabia que na Fluminense havia um excelente curso de Métodos Matemáticos para a Engenharia Elétrica.

Na minha carreira posterior como professor, que incluiu a organização de vários cursos na UNICAMP, USP, ITA e UNESP de Guaratinguetá, e no contacto profissional com vários pesquisadores de renome, pude constatar o acerto dos princípios básicos da orientação que me foi dada pelo Professor Gross. Portanto, este será o pano de fundo da proposta que farei neste documento.

Conforme apontou o Professor João Barata no artigo publicado no BIFUSP, em 17/05/2002, o "Acordo de Cavalheiros", sobre a distribuição do ensino de graduação, acabou por produzir um distanciamento dos Departamentos da organização e administração dos cursos e dificuldades no planejamento harmonioso da estrutura curricular. De fato, quando esse sistema estava ainda sendo implantado, no início da década passada, o Professor Ernst Hamburger se posicionou contra sua implantação, por julgar que levaria a um rápido descompromisso dos Departamentos com a qualidade de ensino. Desde então, ele tem em várias ocasiões se manifestado publicamente contra esse sistema. Confesso que na época julguei as críticas do Professor Hamburger um pouco exageradas. No entanto, hoje vejo que a manutenção desse sistema, que considero positivo em alguns aspectos, só será possível se conseguirmos formular uma estrutura curricular adequada, que seja rigorosamente administrada no nível institucional, com um envolvimento mais responsável por parte dos Departamentos e da Diretoria. Em particular, tenho em mente o envolvimento direto e efetivo da Diretoria da Escola Politécnica na reformulação de sua estrutura curricular, que ocorreu há cerca de três anos, na qual participei como coordenador dos cursos de Física III e IV.

Não vou comentar sobre a melhor forma de administrar a gestão do Ensino de Graduação no Instituto, por nunca ter sido membro da CEG e por julgar que existem colegas mais capacitados para analisar esse tema. Gostaria apenas de apresentar uma proposta para a organização e programação da estrutura curricular do Bacharelado. Embora as sugestões apresentadas focalizem apenas alguns aspectos de um problema bastante complexo, julgo que pelo menos algumas delas possam merecer a consideração dos colegas professores e dos alunos.

PROPOSTA

  1. O Ciclo Básico, primeiro e segundo anos, deve ser organizado e administrado de forma integrada. Deve haver um só coordenador de Física para todo o Ciclo Básico, auxiliado por um sub-coordenador de laboratório. Os professores dos diferentes cursos, Física 0 a Física IV, devem estar submetidos a essa coordenação e acompanhar as turmas durante todo o ciclo, ou seja a carga didática deve ser atribuída ciclicamente a cada professor, começando em Física 0 (ou Física I caso o curso Física 0 seja descontinuado) e terminando em Física IV. Assim, cada professor terá um maior compromisso com o progresso de seus alunos e uma visão integrada de sua formação básica. Conseqüentemente, esse esquema permite melhor continuidade do planejamento didático e oferece um mecanismo de realimentação para correção de possíveis falhas.
  2. Os cursos de laboratório, do Ciclo Básico, devem ser integrados com os cursos teóricos, no formato dos Cursos Física III e IV para a Engenharia Elétrica. Considero essencial que essa integração seja acompanhada por um planejamento das experiências de forma a acompanhar o desenvolvimento da teoria e por uma simplificação substancial dos relatórios, que devem ser feitos na forma de estudo dirigido e entregues imediatamente após as experiências. Além disso, é importante que os professores de teoria sejam os mesmos de laboratório, certamente auxiliados por monitores. A justificativa pedagógica para esse formato é que o objetivo principal dos laboratórios no Ciclo Básico deve ser fazer com que os alunos i) adquiram gosto pela Física através da visualização experimental de modelos teóricos; ii) percam o receio de tarefas experimentais e se familiarizem com diferentes equipamentos; iii) vivenciem o vínculo essencial da experiência com a teoria nos modelos físicos. Para isso, é necessário que tarefas secundárias, que desviem a atenção do fenômeno físico, como uma preocupação excessiva com o cálculo de erros, sejam evitadas. Por outro lado, o contacto direto no laboratório com o mesmo professor que ensina a parte teórica vai certamente contribuir para eliminar esta falsa e perniciosa dicotomia entre teoria e experiência, que infelizmente é incutida em nossos alunos por alguns colegas.
  3. As disciplinas Estrutura da Matéria, que pode ser considerada como uma ponte entre a formação básica e a profissional, e Física Experimental V & VI devem ser organizadas de forma diversa das do Ciclo Básico. Em particular, esse estágio intermediário é a ocasião oportuna para iniciar um aprofundamento nas técnicas e procedimentos experimentais. Por isso, a metodologia atual dos laboratórios de Física Experimental V & VI deve ser mantida, ou seja, com mais tempo para realizar as experiências, uma cuidadosa análise de erros e relatórios mais elaborados. Embora a disciplina teórica e as experimentais possam ter uma única coordenação, nesse estágio não é mais necessário que os professores de teoria e laboratório sejam os mesmos.
  4. Após o Ciclo Básico, todos os alunos devem necessariamente cursar todas as disciplinas da "Coluna Mestre" da formação em Física: Mecânica Clássica, Eletromagnetismo e Mecânica Quântica. Além dessas, devem haver poucas outras disciplinas obrigatórias, talvez somente Física Matemática e Termodinâmica, incluindo fundamentos de Física Estatística.
  5. Todas as outras disciplinas do curso devem ser não-obrigatórias. Para auxiliar os alunos na estruturação de sua grade curricular, o esquema de Orientadores de Programa deve ser restabelecido, mas sem a obrigatoriedade burocrática de aprovação formal do orientador para efetivar a matrícula dos alunos. Esses devem ter a liberdade de escolher o orientador que desejem, preferencialmente o orientador de iniciação científica, se houver, ou organizar sua grade curricular sem nenhuma orientação.
  6. Na escolha dos cursos não-obrigatórios, os alunos devem ser incentivados a cursar disciplinas em outras unidades da USP, de acordo com a formação profissional que almejem. Como bem colocado pelo Professor Alberto Villani, no artigo publicado no BIFUSP, em 31/05/2002, temos que estar conscientes que não estamos formando somente alunos que pretendem seguir uma carreira em pesquisa ou docência. Muitos de nossos alunos talvez procurem se inserir diretamente no mercado de trabalho, após o Bacharelado, e a eles deve ser dada a oportunidade de complementar sua formação cursando disciplinas em outras áreas. Afinal estamos numa universidade e não numa escola isolada!.
  7. Os programas de todos os cursos do Ciclo Básico e da "Coluna Mestre" devem ser especificados de forma detalhada, bem mais do que nas ementas atuais, e para cada curso deve ser indicado um único livro texto. Os professores não devem ter a liberdade de alterar o programa ou adotar outros livros textos, sem autorização explícita da CEG. Naturalmente isso não deve impedir que o ensino seja complementado através de leituras suplementares, utilização de programas educativos, notas de aulas, etc. No entanto, o comprometimento com o programa de cada disciplina deve ser tal que qualquer aluno, que queira cursá-la sem assistir aula, tenha condição de fazer todas as provas estudando no livro texto o assunto programado para cada prova e fazendo as listas de exercícios correspondentes. Infelizmente, na situação atual tem ocorrido adoção de diferentes livros textos, de acordo com a preferência do professor que eventualmente esteja ministrando a disciplina, e o não cumprimento do programa estipulado pela ementa. Isso é uma das causas da falta de uniformidade na formação básica de nossos alunos.
  8. A atribuição de carga didática para as disciplinas que formam a "Coluna Mestre" deve ser feita por convite da CEG a professores experientes e que tenham tido boa avaliação didática em outros cursos. Assim, a responsabilidade pela qualidade de ensino nos cursos fundamentais fica bem estabelecida e pode ser cobrada pelos alunos e Departamentos.
  9. O programa das disciplinas que formam a "Coluna Mestre" deve ser o mais completo possível, cobrindo aproximadamente o previsto nas ementas atuais dos cursos I & II de cada disciplina. Explicitamente, não creio que possa ser considerado bem formado um bacharel que não tenha aprendido os assuntos correspondentes a Eletromagnetismo II e Mecânica Quântica II. Na minha opinião, se necessário, é melhor sacrificar o aprendizado em assuntos especializados, como Física do Estado Sólido, Física Nuclear, Física de Plasmas, etc, do que simplificar a formação nas disciplinas que lhes dão sustentação.
  10. Devem ser adotadas notas mínimas em Física e Matemática, do ENEM, para o ingresso no Curso de Bacharelado. O sistema atual, no qual apenas a classificação no vestibular conta para o ingresso na carreira, independente das notas alcançadas em Física e Matemática, apesar de politicamente correto, como sustentam alguns, lança muitos estudantes numa cruel armadilha da qual é difícil escapar. O Curso de Bacharelado em Física não somente é muito exigente, como também tem a característica de um progressivo aumento do nível de dificuldade durante toda sua duração. Somente aqueles com vocação e com um preparo mínimo têm condições de enfrentá-lo. Atualmente, acabam entrando pela porta do vestibular alunos sem qualificação adequada e sem motivação, enganados pela relativa facilidade de acesso e com esperanças de recuperar suas deficiências durante o curso. Qualquer um que tenha ministrado Física 0 sabe que somente algumas pequenas deficiências de formação podem ser efetivamente recuperadas. Deficiências de base dificilmente serão sanadas e, em alguns casos, são na verdade reflexo de uma falta de aptidão que não há como remediar. Quando se conscientizam de que estão fazendo um curso para o qual não têm nenhuma vocação, muitos alunos já investiram alguns anos na Física e a cruel imposição de fazer novamente o vestibular, para mudar de carreira, os deixa sem ação. Assim, prosseguem no curso da forma possível, com o objetivo de pelo menos obter um diploma de nível superior. A utilização das notas do ENEM, em contraste com a imposição de notas mínimas no vestibular, é interessante porque permite aos estudantes modificar a tempo a escolha da carreira, dando uma sinalização concreta do nível de conhecimento que se espera daqueles interessados em se tornar Bacharéis pelo IFUSP.

Termino agradecendo àqueles que se dispuseram a ler este longo documento e ao Prof. Fiedler-Ferrara pelo convite.


FORMA E CONTEÚDO

Luciano Barosi de Lemos

O texto do Prof. Barata publicado neste periódico no dia 17/05/02 é repugnante, porque apresenta problemas reais do IF. Gostaria aqui de levantar situações exageradas, conceitos errôneos, inverdades, mas a realidade não me permite. São poucas as propostas apresentadas e não pretendo aqui me alongar discutindo o mérito ou a sua factibilidade.

No entanto chama a atenção o Artigo do Sr. Motta publicado no mesmo periódico no dia 24/05/02. É louvável ver alunos recém-chegados ao Instituto engajados na problemática do ensino de Física aqui ministrado, o que também ressalta a dramaticidade da (má) situação atual que se torna evidente tão cedo para os alunos, como o foi para mim há oito anos.

O Sr. Motta apresenta uma visão freqüente de muitos que aqui ingressam e sobre a qual pretende me deter por alguns instantes. Como estas concepções aparecem em seu texto misturadas com falhas de argumentação algumas vezes contraditórias, outras embasadas em premissas falsas a situação geral fica confusa e pretendo expor no que segue algumas questões relevantes a todos estes três aspectos simultaneamente, correndo o risco de ser, por vezes, injusto.

À primeira vista tenho a impressão que o texto do Prof. Barata ao qual o Sr. Motta se refere não é o mesmo que eu li, já que afirma "a solução deste problema não esta na burocratização (...) mas na discussão ampla e direta". Ora, a proposta da criação da secretaria de graduação visa justamente reduzir o ônus burocrático sobre a estrutura atual da CG, libertando-a para tarefas mais relevantes para a melhora do ensino. A não ser que se julgue o moroso trabalho atual da CG na atribuição da carga didática - coisa que qualquer bom aluno de cálculo numérico é capaz de automatizar (parcialmente) - como uma das mais nobres tarefas para a melhoria do ensino!

Outra questão que permeia o texto é a idéia de que não se pode definir critérios de "respeitabilidade acadêmica''. Concordo que estes são necessariamente subjetivos, mas se "Ciência fundamenta-se em resultados nos quais uma comunidade entra em acordo'', também pode-se entrar em acordo sobre estas questões, mesmo porque todas as áreas do conhecimento adotam um ou outro critério que defina a respeitabilidade dos indivíduos envolvidos. Note-se que não se trata de inventar um critério e impô-lo à comunidade, mas de olhar para esta mesma comunidade e procurar uma solução que possa já ter sido encontrada. De fato, parece corrente o pensamento que julga tanto mais respeitável academicamente quanto mais produtivo e/ou impactante for o trabalho científico, i.e., mede-se a respeitabilidade em termos de produtividade e eficiência, medidos através do números de publicações em revistas arbitradas e de citações destes artigos. Parece-me um critério razoável, tomando-se o devido cuidado para comparar áreas de conhecimento diferentes, que envolvem procedimentos e dificuldades diversas (ou, não se junta no mesmo saco Matéria Condensada e Física Matemática, por exemplo). Na falta de outros critérios, parece um acordo amplamente aceito na comunidade. E está aí a definição.

O Sr. Motta gasta considerável parte do seu texto nesta questão exposta acima, de forma que acho instrutivo prosseguirmos. Primeiro, respeitabilidade não significa um objeto de louvor, mas a compreensão da importância desta pessoa (em termos de produtividade e repercussão) para o desenvolvimento da Ciência. Apenas um lunático negaria importância a A. Einstein, dada a sua vasta influência em todas as grandes áreas da Física de sua época, mesmo que não o veja como um modelo de Físico a ser seguido, sendo assim confesso não entender a tentativa de listar Físicos no artigo do Sr. Motta. Aproveitando para responder as perguntas formuladas nesse parágrafo do texto referido, claramente não posso considerá-lo respeitável, como também não considero César Lattes respeitável (academicamente).

Um dos principais exemplos desse texto é o de Edward Witten, que se baseia em um erro grande. Até 1990, quando ganhou a Medalha Fields, Edward Witten tinha mais de 160 artigos, os quais, até hoje receberam mais de 25000 citações! Certamente ninguém poderia dizer que estava em ócio! Quem tiver curiosidade pode verificar quantos são seus artigos e citações hoje!

Diante disto a visão romântica do Sr. Motta desaba. Finalmente, posso discorrer um pouco sobre a questão da reforma do ensino no IF, aproveitando ainda o mesmo texto e respondendo a pergunta "Qual é o objetivo do curso de bacharelado?'"

O conhecimento não pode ser ensinado, apenas construído e apreendido, através de uma infinidade de diferentes caminhos. O Curso de bacharelado deve ter como meta a definição clara do que é ser um Físico que se deseja formar neste Instituto e orientar a formação deste profissional segundo as diretrizes delineadas. Isto envolve a redefinição de um currículo apropriado para equipar os futuros Físicos com ferramentas modernas necessários para o trabalho efetivo de pesquisa. O papel do professor é o de orientar a aquisição deste conhecimento, auxiliado por uma boa ementa que seja cumprida e pela aplicação de tarefas importantes e motivantes, diminuindo-se a carga horária em sala de aula e aumentando-se o esforço do aluno extra classe. Como definir um bom currículo? Leiam o artigo do Prof. Barata e uma proposta do Prof. Wreszinski publicada no ano passado.

Da parte dos alunos, deve-se abandonar ilusões de que fazer Física é algo como sentar e discutir um livro do Asimov sobre buracos negros. Vivas ao posicionamento crítico e ao trabalho individual (e auto-didata), mas isto só faz sentido durante e depois de uma sólida formação, o aprendizado profundo de técnicas matemáticas e conceitos físicos fundamentais, lembrando que o conhecimento de conceitos não é feito com divagações, mas com trabalho duro e a resolução de exercícios não-triviais que mostrem as nuances e os domínios de validade das teorias e modelos utilizados. É só o conhecimento profundo que permite o questionamento que não seja vazio, caso contrário teríamos que reinventar a História da Física cada vez que uma turma nova entrasse no Instituto. Evoluamos.

Finalmente respondo a algumas questões que não foram formuladas. A reforma curricular nestes parâmetros é de muito difícil realização, dada a dificuldade de consenso nos órgãos decisórios do Instituto.

Poucos professores conseguiriam desempenhar o seu papel de maneira corretas. Alguns até teriam dificuldades de cumprir ementas bem feitas de cursos pela falta de conhecimento.

Os alunos que trabalham seriam injustamente prejudicados devido á falta de tempo disponível para se dedicar ao curso.

O baixo nível dos alunos que vêm sendo aprovados no vestibular seria um problema de grandes proporções para a implantação de um novo currículo nestes moldes.

A tradição de tutelamento dos professores sobre os alunos é de difícil modificação.

Por fim, lembro que ingressam 160 alunos no Instituto por ano apenas no curso de Bacharelado, esta quantidade de Físicos se formando, somando-se aos outros cursos de Física no País não poderia ser facilmente absorvida no mercado de trabalho ou no mundo acadêmico, o que rememora uma frase famosa de um professor deste Instituto: "Evasão é problema no Carandiru, aqui é a solução!".

Posso apenas ter esperanças (poucas) de que alguém consiga desatar todos estes nós.


COMISSÃO DE PESQUISA

A Comissão de Pesquisa do IF está estabelecendo mais um critério de avaliação dos relatórios dos bolsistas do programa PIBIC/CNPq. Além do relatório escrito, o bolsista deverá apresentar, obrigatoriamente, um seminário anual relatando o seu projeto de pesquisa para uma platéia de outros bolsistas e alunos, e um membro da Comissão de Pesquisa, ou um outro Professor por ela indicado para este fim. Esta atividade terá início no segundo semestre deste ano, e a programação será divulgada durante o mês de junho.

GRUPO DE SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL EM MATERIAIS

Coordenador: Prof. Adalberto Fazzio

A pesquisa no campo da Nanociência tem se desenvolvido sobremaneira nos últimos anos, tendo recebido grande destaque em diferentes áreas do conhecimento como: a Física, a Química, a Biologia e a Engenharia de Materiais. Uma parte desse interesse advém do fato dos sistemas físicos apresentarem novos comportamentos quando manipulados em escalas nanométricas; outro interesse é sua potencialidade na utilização como dispositivos eletrônicos no futuro próximo. O foco principal de nossas atividades é a busca do conhecimento fundamental das propriedades físicas dos materiais através de simulações computacionais. O grupo trabalha com diferentes técnicas desde soluções da equação de Schroedinger no formalismo da teoria do Funcional da Densidade até métodos empíricos, Dinâmica Molecular, Monte Carlo etc.

Atualmente, nossos principais tópicos de interesse são: i) Nanofios Metálicos; ii) Nanotubos de Carbono; iii) Spintrônica; iv) Dielétricos Alternativos; v) Atomística de Crescimento; vi) Sistemas Amorfos.

O nosso grupo (inserido dentro do Grupo Teórico do FMT) é formado por 2 professores do IFUSP (Adalberto Fazzio e Antônio José Roque da Silva), 4 pós-doutores, 4 estudantes de doutorado, 3 estudantes de mestrado e 2 alunos de iniciação científica. O grupo tem mantido uma estreita colaboração com pesquisadores da UNICAMP, Universidade Federal de Santa Maria, Universidade Federal de Uberlândia e Universidade Federal da Bahia. A título de exemplificar alguns de nossos trabalhos, destacamos 3 deles publicados em 2001. a) "How Do Gold Nanowires Break?"Phys. Rev. Lett. 87, 256102 (2001) – Nesse trabalho, através de técnicas de Dinâmica Molecular simulamos um experimento realizado no LNLS, cujo objetivo é mostrar e entender o processo da formação de cadeias de átomos de ouro antes e após sua ruptura. b) "Two-Atom Structures of Ge on Si: Dimers versus Adatom Pair"Phys. Rev. Lett. 87, 36104 (2001) – Interpretações de imagens de Scanning Tunneling Microscope-STM são feitas utilizando a teoria do Funcional da Densidade. Isso auxilia no entendimento dos estágios iniciais do crescimento de Ge sobre Si. c) "O2 Diffusion in SiO2: Triplet versus Singlet"Phys. Rev. Lett. 87, 155901 (2001) – O SiO2 é um material que desempenha um papel fundamental na microeletrônica. A contínua miniaturização passa por um entendimento microscópico do processo da oxidação do Si. Nesse trabalho mostramos a importância de considerar o grau de liberdade do spin no processo difusivo de O2 em SiO2.

Os estudantes (graduação ou pós-graduação) interessados nas atividades de nosso grupo podem nos contatar, pois estamos à disposição para maiores esclarecimentos e abertos a novos integrantes.


COLÓQUIO ESPECIAL

"Mesa Redonda sobre Diagnóstico do IFUSP e Plano de Metas"

13 de junho, quinta-feira, Auditório Abrahão de Moraes, às 16h

Nesta mesa redonda serão apresentados indicadores quantitativos e/ou qualitativos para subsidiar os trabalhos da Comissão constituída pela Diretoria, que deverá elaborar um diagnóstico completo e bastante aprofundado da atual situação do IFUSP em seus vários campos de atuação.

Os participantes da mesa redonda são os Professores: Adalberto Fazzio (Coordenador da Comissão e Vice-Diretor do IFUSP); Luiz Carlos Gomes (Presidente da CG); Armando Corbani Ferraz (Presidente da CPG); Alberto Villani (Presidente da CPGI); Mahir S. Hussein (Presidente da CPq); e Ernst Hamburger (Representante do IF no Conselho de Cultura e Extensão).


MINI-COLÓQUIO DA GRADUAÇÃO

"Avant première: Átomos, moléculas, vida, etc."

Prof. Dr. Celso Luiz Lima - IFUSP

10 de junho, segunda-feira, Auditório Abrahão de Moraes, às 13h

Neste colóquio serão apresentados aspectos da mecânica quântica, mostrando sua conexão com algumas características do mundo que nos cerca; serão discutidos, em particular, os átomos, a relação da MQ com a química, a estrutura das moléculas, desaguando numa discussão de aspectos da "molécula da vida".

Ele foi pensado como uma espécie de apresentação de uma disciplina optativa de introdução à física moderna - Partículas: a dança da matéria e dos campos - que será oferecida no próximo semestre.


SEMINÁRIO DE ENSINO

"UNIVERSIDADE E ESCOLA EM PESQUISA-AÇÃO"

11 de junho, terça-feira, Auditório Adma Jafet, às 16h

Profa. Dra. Elsa Garrido, FEUSP

A pesquisa sobre ensino tem valorizado processos formativos que estimulam o envolvimento e a participação do professor, tornando-o autor e investigador de sua prática pedagógica. Mas tais conquistas, conduzidas fora do habitat escolar, têm encontrado enorme dificuldade para sobreviver e para se expandir, contaminando e transformando a cultura escolar. Para entender e neutralizar tais mecanismos de resistência, de modo a favorecer o desenvolvimento profissional de professores e o surgimento de mudanças nas práticas escolares, desenvolvemos uma pesquisa colaborativa que reuniu durante 4 anos (1996-2000), quatro pesquisadores da FE-USP e vinte e quatro professores pertencentes a um Centro de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério (CEFAM). Os professores questionaram suas práticas escolares. Re-elaboraram seus saberes e práticas para superar as insuficiências que detectavam. O ensino torna-se pesquisa, pesquisa na ação. Como se dá o processo de desenvolvimento dos professores no ambiente de trabalho? Que significa investigar/pesquisar o próprio ensino? Como transformar insatisfações e questionamentos vagos em projetos de ação e investigação? Quais as diferenças entre professor "reflexivo", "crítico reflexivo", "investigativo", e "pesquisador"? Que conhecimentos o professor constrói? Quais as diferenças entre o conhecimento que ele produz e o conhecimento acadêmico? Pode-se efetivamente dizer que o professor que investiga sua prática e a aperfeiçoa está produzindo conhecimento sobre ensino? Qual o papel do pesquisador nesse processo? Vivenciamos incertezas sobre a propriedade da nossa conduta na dupla função de formadores-pesquisadores. Que fatores favoreceriam o desenvolvimento profissional do professor? Qual o impacto da introdução de mudanças na vida organizacional? Que tipos de conflito ocorrem entre os participantes e entre diferentes esferas institucionais: escolas, diretoria de ensino, universidade? Como eles se manifestam e como minam os processos de coesão e participação dentro do grupo? Como neutralizá-los de modo a ampliar os canais de diálogo e cooperação na escola básica? A natureza intervencionista deste tipo de pesquisa, seu caráter reflexivo, interativo e processual, as pressões e os conflitos que marcam as relações entre os diferentes atores no cotidiano institucional, as urgências da vida prática, a longa duração da pesquisa colaborativa e o grande número de participantes colocam questões éticas, epistemológicas e metodológicas agudas..


COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO

INSCRIÇÕES PARA BOLSAS DE MESTRADO/DOUTORADO E NOVAS MATRÍCULAS

Estarão abertas de 27/05 a 14/06/02 as inscrições para bolsas de Mestrado/Doutorado do CNPq/CAPES e para as novas matrículas no curso de Pós-Graduação de Física em Mestrado/Doutorado para o 2o semestre de 2002.

Os interessados deverão fazer sua inscrição junto à Secretaria de Pós-Graduação do IFUSP.


COMUNICADO DA FAPESP

A FAPESP está implantando, ainda em caráter experimental, o processamento de solicitações de Bolsas de Pós-Doutorado (no País) via Internet. Por suas características, o IFUSP foi convidado para participar dessa etapa. Assim, os pedidos de Bolsa de Pós-Doutoramento apresentados por pesquisadores deste Instituto, podem ser apresentados por via eletrônica, conforme instruções e formulários disponíveis no endereço http://saturno.fapesp.br.


ATIVIDADES DA SEMANA


2a. FEIRA, 10.06.2002

MINI-COLÓQUIO DA GRADUAÇÃO
"Avant première: Átomos, moléculas, vida, etc."
Prof. Dr. Celso Luiz Lima, IFUSP
Auditório Abrahão de Moraes, às 13h

SEMINÁRIO DO LABORATÓRIO DE NOVOS MATERIAIS SEMICONDUTORES
"Propriedades Estruturais da Liga Quaternária AlxGayIn1-x-yN"
Marcelo Marques , FMT, IFUSP10/06/2002 - 14h00
Edifício Alessandro Volta, Bloco C, Sala de Seminários, às 14h


3a. FEIRA, 11.06.2002

SEMINÁRIO DO LABORATÓRIO DE ÓPTICA
"Técnicas de Caracterização de Piezoatuadores Flexitensionais"
Gilder Nader - Escola Politecnica da USP
Ed. Principal, Ala I, Sala 204, às 9h

SEMINÁRIO DO LABORATÓRIO DE MICROSCOPIA ELETRÔNICA
"Reutillização de borracha de pneus em argamassa de cimento composto"
Profa. Dra. Inés Joekes, IQ, UNICAMP
Ed. Principal, Ala I, Sala 201, às 15h

SEMINÁRIO DE ENSINO
"Universidade e Escola em Pesquisa-Ação"
Profa. Dra. Elsa Garrido, FEUSP
Auditório Adma Jafet, às 16h

SEMINÁRIO DO GRUPO DE FÍSICA NUCLEAR TEÓRICA E FENOMENOLOGIA DE PARTÍCULAS ELEMENTARES (FINPE)
"Secão de choque hadron-charmonium no modelo dipolo-capacitor"
Maria Simone Kugeratski Souza, FINPE-IFUSP
Ed. principal, Ala II, Sala 335 às 17h


4a. FEIRA, 12.06.2002

SEMINÁRIO CONJUNTO DO DEPARTAMENTO DE FÍSICA NUCLEAR E DO LABORATÓRIO DO ACELERADOR LINEAR
"O "status" de P&D em ADS (Accelerator Driven Systems) para a transmutação de resíduos radioativos e geração de energia"
Dr. José Rubens Maiorino, Diretor de Projetos Especiais, IPEN
Edifício Oscar Sala, Sala 156, às 16h


5a. FEIRA, 13.06.2002

SEMINÁRIO DO LABORATÓRIO DE CRISTALOGRAFIA
"Empacotamento molecular em um filme de alcano semi-fluorado da superfície da água até mono/multicamadas de Langmuir-Blodgett"
Eric Pouzet, IFUSP
Auditório Norte, às 10h

COLÓQUIO ESPECIAL
"Mesa Redonda sobre Diagnóstico do IFUSP e Plano de Metas"
Participantes: Profs. Adalberto Fazzio (Coordenador da Comissão e Vice-Diretor do IFUSP); Luiz Carlos Gomes (Presidente da CG); Armando Corbani Ferraz (Presidente da CPG); Alberto Villani (Presidente da CPGI); Mahir S. Hussein (Presidente da CPq); e Ernst Hamburger (Representante do IF no Conselho de Cultura e Extensão)
Auditório Abrahão de Moraes, às 16h


6a. FEIRA, 14.06.2002

SEMINÁRIO DO GRUPO DE FLUIDOS COMPLEXOS (GFCX) - DFE
"Medidas de Varredura Z em Amostras Liotrópicas"
Auditório Adma Jafet, às 9h

SEMINÁRIO FÍSICA AO MEIO-DIA
"Monocamadas de Langmuir: Características gerais e simulações numéricas"
Carlos Eduardo Fiore dos Santos, IFUSP
Ed. Principal, Ala I, Sala 310, às 12h30


B I F U S P - Uma publicação semanal do Instituto de Física da USP

Editor: Prof. Nelson Fiedler-Ferrara

Secretária: Liliam Maria Matheus Gimenez

Textos e informações assinados são de responsabilidade de seus autores

São divulgadas no BIFUSP as notícias encaminhadas até 4a feira, às 12h, impreterivelmente

Fone/Fax: Tel: 3091-7114 - e-mail: bifusp@if.usp.br - Home page: www.if.usp.br