bIFUSP

ANO XVIII - No.40 - 13/12/2002


ÍNDICE


Editorial

Escrever editoriais de fim de ano é difícil. Corre-se o risco de ser repetitivo: dizer que é tempo para avaliar o que ocorreu no ano, fazer planos para os projetos futuros, estabelecer prioridades. Não fugirei à regra. Aliás, desejo aos prezados leitores deste Boletim Informativo o melhor neste fim de ano e naquele que se aproxima. Contudo, em adição, tentarei trazer para reflexão neste espaço nobre – privilégio de ser editor – um tema relacionado com equanimidade, algo freqüentemente lembrado na época das festas natalinas, ainda que pouco praticado.

O que vou tratar diz respeito à função precípua da Universidade: a melhor preparação dos estudantes. Uso "preparação" no sentido que lhe atribui Ortega y Gasset. Para esse grande filósofo espanhol, conforme expresso em sua obra La Misión de la Universidad, uma série de seis palestras proferidas em 1930, a convite da Federação dos Estudantes Universitários da Universidade de Madri, a principal missão da Universidade seria preparar o estudante para conhecer a si mesmo e viver a sua vida de maneira mais completa, tornando-se uma pessoa culta e autônoma, capaz de sobrepor-se ao seu tempo e capaz de impulsionar criativamente o destino político do país.

Considero importante enfatizar dois aspectos quando se reflete a respeito de como a nossa Universidade prepara seus alunos. Primeiro, a formação que oferecemos é, em geral, tecnicista - e não me refiro aqui somente às áreas das ciências exatas e da natureza; isso também ocorre nas ciências humanas - na maior parte das vezes restringindo-se à formação de um profissional para o mercado. Não há dúvidas de que isso faz parte da preparação para a vida, mas não basta. As técnicas devem ser adquiridas pelos alunos, mas é nossa função prepará-los também para o emprego ético dos conhecimentos adquiridos. Refiro-me aqui a uma ética do bom (benéfico) para todos os indivíduos, para a natureza, para o planeta, e não a uma filosofia moral que "tem tendência a privilegiar aquilo que é certo fazer, ao invés daquilo que é bom ser, definindo o conteúdo da obrigação ao invés da natureza da boa vida" ( Charles Taylor, apud Francisco Varela ). Nesse sentido, o exemplo manifesto no melhor agir ético do professor em sua vida profissional e privada é essencial; isso inclui, obviamente, a sua ação política nas várias esferas de poder em que atua. Esse primeiro aspecto refere-se a um nível basal de equanimidade do qual os demais dependem.

Um segundo aspecto diz respeito à maneira como em geral nossos alunos são considerados. Nossa Universidade foi fundada para formar os filhos das elites econômicas locais para exercerem o poder. Observe-se que isso não corresponde a preparar as elites dirigentes no sentido de formar intelectuais orgânicos. A origem de nossa Universidade é elitista e disso hoje padece. Há uma relativa eficiência na preparação técnica, e algumas vezes reflexiva, de uma parcela diminuta do alunado. O antigo modelo elitista persiste. Infelizmente, para um número significativo de docentes, a formação de alto nível é privilégio de alguns alunos dotados de aptidões especiais e que chegam a esta Universidade com uma boa base. Serão esses alunos que concluirão o curso com sucesso e bom aproveitamento; eles farão pós-graduação, serão futuros pós-doutores extremamente produtivos à procura de raros empregos disputados em raros concursos com muitos candidatos, dos quais serão também escolhidos os "mais aptos" segundo critérios que favorecem qualificações consideradas "mais nobres". E os demais alunos? Que tipo de conhecimento se possibilita ser construído por essa maioria através de nossas ações pedagógicas?

Não podemos continuar a formar nossos alunos da maneira como temos feito. Temos de prepará-los para a autonomia, para a vida. Isso não deve ser reservado a uma minoria. Nossa lógica deve ser a da inclusão. Nossos objetivos não devem ser modestos. Devemos preparar todos os nossos alunos. Buscar o aprimoramento, através de método e metodologias adequadas para esses objetivos. Colocar em prática princípios éticos e de equanimidade. A Universidade elitista que herdamos tem de ser transformada.

Prof. Nelson Fiedler-Ferrara


O Bacharelado Noturno e a discussão dos Cursos Básicos de Física

Marcelo Martinelli

(Pós-Doutor no Instituto de Física da USP; Formando do Bacharelado Noturno de 1995)

Sobre a reunião recentemente convocada pelo CEFISMA em 22/11/02 para discutir as diferentes propostas para os cursos básicos de Física, confesso um certo espanto com relação à atenção dada ao curso noturno. Durante a apresentação das propostas, a Comissão de Graduação mencionou, diversas vezes, o insucesso com o Bacharelado Noturno, medido pela alta taxa de desistência e pela má formação dos alunos ingressantes medida, entre outras formas, pelos resultados do vestibular.

Em meio a essa discussão, colocam-se propostas diversas, que passam pela questão da recuperação dos alunos ingressantes com falhas de formação, nem que sejam necessários longos períodos para isso, levando a cursos mais alongados para o noturno, com um tratamento especial para estes alunos.

É de se questionar os motivos pelos quais o noturno é visto como um insucesso. A baixa nota de corte tem seus motivos nas recentes reformulações do ensino. Há oito anos atrás, o curso noturno do Bacharelado em Física era uma alternativa viável para ingresso na Universidade de São Paulo de pessoas que, por motivos pessoais, eram obrigadas a trabalhar ao longo do dia e não podiam seguir os cursos diurnos. Nesta época, ainda que houvesse problemas sérios de evasão, o desempenho dos estudantes era satisfatório. Parte disso deve-se à origem dos estudantes, formados em grande parte em escolas técnicas, onde recebiam uma formação mais adequada de matemática, física e química. Ainda que isso fosse feito em detrimento das cadeiras de Humanas, esta formação assegurava um desempenho estável nos dois primeiros anos, além de uma prática prévia de laboratório que muito contribuía no ciclo básico.

Porém, com a alteração da orientação das escolas técnicas, é de se questionar se isso não afetou o nível de formação dos ingressantes. Além disso, a expansão de vagas no curso noturno claramente não foi feita visando suprir uma demanda dos ingressantes (que seria verificada por uma diferença na relação candidatos/vaga), mas por razões políticas. Ou seja, pela necessidade de se dizer que a USP atende a solicitação de um terço de vagas no período noturno. Para fazê-lo, foi realizada uma expansão arbitrária dos cursos noturnos já existentes, de modo que eles suprissem a falta destas vagas em outras unidades (Poli, Direito, etc.). O resultado óbvio é a malfadada queda de formação dos ingressantes, levando a um descompasso entre estes alunos e seus colegas ingressantes no diurno.

Considere agora o aluno regularmente empregado, com fonte de renda própria e compromissos financeiros, que ingressa no Instituto. Esperando realizar um curso em cinco anos que o leve a uma melhor colocação no mercado de trabalho, ele descobre que são raros os casos de alunos que conseguem completar o curso noturno no prazo esperado. Os motivos são vários: falta de professores, falta de oferecimento regular de disciplinas optativas, ou simplesmente falta de tempo para o estudo. Some a isso o fato de que ele será considerado pelo Instituto como aluno "inferior", devendo cursar classes especiais para recuperar sua formação que irão
alongar ainda mais o curso, como foi o caso da tão discutida, e aparentemente pouco eficiente, Introdução à Física (Física 0).

Por outro lado, o seu acesso à pós-graduação do Instituto sofre diversas barreiras. A primeira é a questão da Iniciação Científica. Ainda que muitos disponham de habilidades adquiridas durante a escola técnica, ou estejam dispostos a sacrificar parte do seu tempo para se dedicar a atividades de laboratório, são estes alunos os mais distantes dos professores e dos laboratórios. Para melhorar a situação, o CNPq não fornece bolsas PIBIC a alunos maiores de 24 anos! O aluno noturno toma mais tempo para se formar, vindo por vezes de quatro anos de colegial técnico, ficando assim automaticamente excluído do processo de seleção. Como resultado deste preconceito brutal, temos o impedimento que eventuais candidatos possam fazer da atividade acadêmica uma fonte alternativa de renda (apesar do enorme desnível entre a remuneração de um técnico e o valor da bolsa). Fica clara a dificuldade que ele terá para conseguir ingressar em um grupo de pesquisa.

Por fim, ele deve submeter-se com a desvantagem do prazo de conclusão de curso à concorrência pelas bolsas CAPES na CPG. Se ele superar esse obstáculo, ele deverá abandonar o salário (na faixa de R$ 1.500,00) pela bolsa de mestrado de R$ 725,00. Não é de se estranhar que a desistência seja tão alta com a perspectiva de um trajeto tão inóspito.

Talvez seja o ponto de questionar a que serve o curso noturno. Atualmente, pelo que se descreveu na reunião citada, sua principal função é satisfazer a legislação quanto a vagas na USP. O que os alunos do noturno queriam, e creio que ainda é o caso, não é atenção especial e diferenciada, mas um curso sério e reais oportunidades dentro do próprio Instituto. O aluno do Noturno não deve ser tratado com paternalismo para depois ser descartado pela instituição. Devemos sim é apoiar as pessoas dispostas a correr atrás de eventuais falhas de formação para fazer o melhor curso no menor tempo possível, especialmente porque boa parte dos seus alunos são mais velhos que seus colegas do período diurno. Para eles, não há tempo para perder.

Quanto às alternativas profissionais, devemos ser sinceros e verificar que há um descompasso de vagas entre a área acadêmica (e pública) e a área privada. Enquanto este descompasso se mantiver, a evasão do noturno será alta, pela frustração de uma continuidade profissional mais segura, a qual pode ser obtida em outros cursos fora desta Universidade. Deve-se aceitar este fato, e pensar em adequar o número de vagas à demanda. Por uma questão de direito dos alunos, de respeito às suas vocações individuais, o curso noturno é imprescindível, mas não deve ser mantido como uma forma burocrática de se adequar à lei. Mantido assim, será apenas a instrumentalização da frustração dos principais interessados neste curso como uma forma de enganar a sociedade quanto à existência de vagas noturnas na USP.


ASSISTÊNCIA ACADÊMICA

- Estarão abertas, até 06 de janeiro de 2003, as inscrições para o Concurso para contrataçao de um professor doutor,REF.MS-3 em RDIDP, junto ao Departamento de Física Nuclear.

- Estarão abertas, até 28 de janeiro de 2003, as inscrições para o Processo Seletivo para contrataçao de um professor doutor,REF.MS-3 em RDIDP, junto ao Departamento de Física Geral.

- Estarão abertas, até 17 de março de 2003, as inscrições para o Concurso para contrataçao de um professor titular,REF.MS-6 em RDIDP, junto ao Departamento de Física Experimental.

Informações adicionais podem ser obtidas na Assistência Acadêmica do IFUSP (telefone 11-3091-6902 ou e-mail ataac@if.usp.br).


COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO

Convocação da CPG

A Comissão de Pós-Graduação em Física convoca os orientadores e alunos para reunião sobre o Mestrado, enfatizando o tempo de titulação.

Data: 16 de dezembro de 2002.

Local: Auditório Norte.

Horário: 14h


COMISSÃO DE PESQUISA

A Pró-Reitoria de Pesquisa homenageou, em solenidade realizada no dia 6 de dezembro de 2002, no Paço das Artes, os autores dos trabalhos selecionados apresentados no 10o Simpósio Internacional de Iniciação Científica. De 3.000 trabalhos apresentados no 10o SIICUSP, 140 foram selecionados para a distinção de Menção Honrosa, e destes, 4 são bolsistas ligados ao IFUSP. São eles:

- Fabio Hideaki Hisamoto (Orientador: Prof. Airton Deppman, FEP)

- Fabio Yoshikaza Kanashiro (Orientador: Prof. Silvio Herdade, FEP)

- Kenia Teodoro Wiedemann (Orientador : Prof. Nilberto Medina, FNC)

- Tiago Ribeiro de Oliveira (Orientador : Profa. MariaTeresa Lamy Freund, FGE)

Parabenizamos os bolsistas selecionados e os seus orientadores.

Prof. Mahir S. Hussein

Presidente da Comissão de Pesquisa do IFUSP

BOLSA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

A Comissão de Pesquisa informa que há 5 bolsas disponíveis de iniciação científica no Programa PIBIC/CNPq-USP. Os interessados em concorrer deverão encaminhar à secretaria da CPq, Edifício Principal,
Ala II, sala 211-A, até o dia 19/12/2002, os seguintes documentos: a) formulário 176 do CNPq – "Indicação de Bolsista"; b) formulário de Cadastramento (disponível nas secretarias dos departamentos); c) projeto de pesquisa; d) histórico escolar atualizado; e) cópia do CPF do aluno.

Suspenso limite de idade para bolsas do PIBIC/CNPq

O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) está aceitando bolsistas sem restringir a idade máxima de 24 anos aos candidatos. As novas condições, sem a faixa etária como pré-requisito, estão sendo implementadas em função de uma ação judicial proposta pelo Ministério Público Federal. Embora a Procuradoria Jurídica do CNPq já tenha entrado com recurso para contestar a decisão, o Conselho está informando a todas as Instituições de ensino envolvidas com o PIBIC sobre os novos procedimentos que devem ser adotados a partir de então. Maiores informações podem ser obtidas no site do CNPq: http://www.cnpq.br.


BIBLIOTECA- HORÁRIO DE FÉRIAS

O horário de funcionamento da Biblioteca do Instituto de Física da USP a partir de 16.12.2002, será das 8 às 18h.

Virginia de Paiva

Serviço de Biblioteca e Informação/Atendimento


TESES E DISSERTAÇÕES

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Ivam Pereira Mendes Neto
"Estudos de Mudanças Conformacionais de Moléculas Flexíveis em Meio Solvente: Implementação em Simulação Monte Carlo e Aplicações"
Comissão Examinadora: Profs. Drs. Sylvio Roberto Accioly Canuto (orientador), Vera Bohomoletz Henriques (IFUSP) e Alex Antonelli ( UNICAMP)
18/12, quarta-feira, Ed. Principal, Ala II, Sala 209, às 13h

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Alencar José de Faria
"Efeitos Dinâmicos das Flutuações dos Campos Magnéticos do Vácuo: Ruído Radiativo em Circuitos com Indutância"
Comissão Examinadora: Profs. Drs. Humberto de Menezes França (orientador), Coraci Pereira Malta (IFUSP) e Antônio Vidiella Barranco
18/12, quarta-feira, Ed. Principal, entre a Ala Central e a Ala II, no Auditório Sul, às 14h

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Denise Antônia de Freitas Neves
"O Estado da Arte em Educação Ambiental – a Produção Científica do Período de 1989 a 2000. Uma Análise das Concepções sobre Meio Ambiente, Educação e Educação Ambiental em Dissertações de Três Universidades Paulistas"
Comissão Examinadora: Profs. Drs. Luiz Roberto de Morais Pitombo (orientador), Maria Regina Dubeux Kawamura (IFUSP) e Waverli Maia Matarazzo Neuberger (UMESP)
19/12, quinta-feira, Ed. Principal, Ala II, Sala 209, às 14h

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
José Alves da Silva
"Cidadania e Divulgação Científica no Ensino de Física"
Comissão Examinadora: Profs. Drs. Maria Regina Dubeux Kawamura (orientadora), Mauricio Pietrocola Pinto de Olivera (FEUSP) e Demétrio Delizoicov Neto (UFSC)
20/12, sexta-feira, Ed. Principal, Ala II, sala 209, às 9h

TESE DE DOUTORADO
Militão Vieira Figueredo
"Projeto, Construção e Teste de uma Rede de Microondas para Alta Potência"
Comissão Examinadora: Profs. Drs. Marcos Nogueira Martins (orientador), Nemitala Added (IFUSP), Ricardo Magnus Osório Galvão (IFUSP), Cláudio Costa Motta (IPEN) e Rui Fragassi Souza (UNICAMP)
17/12, terça-feira, Ed. Principal, entre a Ala Central e a Ala II, no Auditório Sul, às 14h


ATIVIDADES DA SEMANA


4a. FEIRA, 18.12.2002

SEMINÁRIO DO LABORATÓRIO DE FÍSICA DE PLASMAS
"Modelagem e Análise Detalhadas de Sistemas de Vácuo"
Francisco Tadeu Degasperi, Faculdade de Tecnologia de São Paulo, CEETEPS, UNESP
Ed. Basílio Jafet, sala 105, ás 14h

COLÓQUIO DO DEPARTAMENTO DE FÍSICA MATEMÁTICA
"Matéria Densa e Estrelas de Neutrons" Paulo Bedaque, Lawrence-Berkeley Laboratory
Ed. Principal, Ala Central, Sala Jayme Tiomno, às 16:00h (s. t.)


5a. FEIRA, 19.12.2002

SEMINÁRIO ESPECIAL DO LABORATÓRIO DO ACELERADOR LINEAR
"Arte e Ciência"
Márcia Rizzo (MRizzo Laboratório de Conservação e Restauração de Bens Culturais) e Prof. Dr Nemitala Added (IFUSP)
Auditório Sul, às 16h


B I F U S P - Uma publicação semanal do Instituto de Física da USP

Editor: Prof. Nelson Fiedler-Ferrara

Secretária: Liliam Maria Matheus Gimenez

Textos e informações assinados são de responsabilidade de seus autores

São divulgadas no BIFUSP as notícias encaminhadas até 4a feira, às 12h, impreterivelmente

Fone/Fax: Tel: 3091-7114 - e-mail: bifusp@if.usp.br - Home page: www.if.usp.br