bIFUSP

ANO XVIII - No.Esp - 28/02/2002


Edição Especial

Extraído do discurso de posse do Prof. Gil da Costa Marques,

em 26 de fevereiro de 2002

Reassumo hoje, com disposição redobrada, a direção de uma das maiores Instituições de Pesquisa e Ensino de Física do mundo. O Instituto de Física da USP tem-se destacado no Ensino e na formação de recursos humanos altamente qualificados (cerca de 100 bacharéis e licenciados/ano, 35 doutores/ano e 50 mestres/ano) e no avanço das fronteiras do conhecimento.

A Universidade tem por objetivos: a Educação para a plena cidadania, a produção e disseminação do conhecimento, o treinamento de pessoal altamente qualificado, a construção de um espaço de aprendizagem por toda a vida, a preservação, fortalecimento e disseminação da Cultura. Nesse contexto, resumo o eixo da minha administração por "Educação com Qualidade". Educação no sentido de incorporação de competências e meios, articulando-os para fazer crescer, instruir, mas também conduzir, levar até determinados fins. Isso pressupõe a partilha de projetos coletivos, mas de tal modo que haja entrelaçamento com os projetos pessoais dos que estudam e trabalham no Instituto. Mas, falar em Educação nos leva a questões de valores e finalidades de nossas ações. Esses valores, para mim, são os de que a Educação visa à promoção do homem. Determinar objetivos implica definir prioridades. E quais são as prioridades no Ensino, na Pesquisa, Cultura e Extensão e na Infra-estrutura do Instituto?

É consensual, hoje, a percepção do quanto são urgentes a atenção e novos investimentos da Universidade em suas atividades de Ensino, tanto na graduação como na pós-graduação. Os índices de evasão de nossos cursos são significativos e estamos longe de atender às demandas da sociedade por uma educação atualizada, dinâmica e adequada a novas realidades.

Considerando a Educação com Qualidade como eixo, é imprescindível que o Instituto de Física construa, na ação, um Projeto de Ensino próprio e inovador. Um projeto no qual a capacidade criadora científica e humanista efetivamente se incorpore na formação de todos os seus alunos. Um projeto orgânico, dinâmico e suficientemente abrangente para desenvolver competências diversas, como exige uma sociedade em contínua e rápida transformação.

Como professor desta Universidade e, no momento, como Diretor do Instituto de Física, reconheço que essa tarefa não é fácil. Precisamos formar pesquisadores capacitados para atuar em áreas de fronteira do conhecimento, profissionais competentes para a indústria, hospitais e setores tecnológicos e professores-educadores para atuar nas várias instâncias educacionais de forma ativa, crítica e criadora. Isso implica reconhecer que o ensino inclui mas não se limita às salas de aula, demandando ações educativas mais amplas, tais como, por exemplo, práticas, estágios, atividades de iniciação, de extensão e de divulgação científica.

Promover um ensino de qualidade em sintonia com o nosso tempo e visando ao futuro, principalmente na graduação, será, portanto, uma de nossas metas, com a mesma prioridade para a formação de professores para o Ensino médio. Para isso, será imprescindível discutir e, com agilidade, desenvolver mecanismos para a efetiva valorização das atividades docentes voltadas para o ensino, de forma integrada às atividades de pesquisa. Esse é um requisito indispensável para viabilizar todas as outras ações que se fazem necessárias e para que possamos responder à nossa responsabilidade na formação de profissionais competentes.

Com essa valorização, deveremos criar programas para atualizar o perfil dos profissionais que queremos formar, rever grades curriculares que garantam uma sólida formação científica, imbricada de valores éticos, culturais e humanistas e responder às exigências de um conhecimento cada vez mais multidisciplinar. Estou convencido da necessidade de criar estruturas que promovam e viabilizem uma maior produção de materiais didáticos de qualidade, incorporando as novas tecnologias hoje disponíveis e todo um conjunto de ações, com canais de participação e diálogo com o corpo discente, que nos permitam assumir a liderança no panorama da educação científica em âmbito nacional.

A produção do conhecimento tem sido o ponto forte da Física desde a fundação da Universidade de São Paulo em 1934. A vinda do Prof. Gleb Wataghin em 1934 iniciou a fase de produção do conhecimento novo e publicação de artigos em revistas internacionais e arbitradas. Em 1936 tivemos a publicação de artigos de impacto na comunidade científica internacional; a descoberta dos chuveiros penetrantes, por exemplo, foi um marco na Física dos Raios Cósmicos.

O Instituto de Física é o maior e o mais completo do País, na medida em que abriga grandes grupos de pesquisa nas áreas de Física Nuclear, Ensino de Física, Física de Plasmas, Biofísica, Física das Partículas Elementares e Campos e a maior área de Física no Brasil, a Física da Matéria Condensada.

O que mais distingue as boas Universidades, que no Brasil são públicas, é o fato dela produzir conhecimento. Através da pesquisa o Instituto de Física se insere na comunidade científica internacional, e tem atuado no avanço da fronteira científica desde os seus primórdios. E é fundamental criar condições para dar prosseguimento a essa pesquisa de boa qualidade praticada no Instituto. Para isso é indispensável melhorar continuamente a infra-estrutura de pesquisa.

As ações desta gestão no âmbito da pesquisa terão como fios condutores: o estabelecimento de uma política científica para o IFUSP, contando para isso com a colaboração das competências existentes no IFUSP; a ampliação da influência e visibilidade das nossas atividades de Pesquisa no cenário nacional; e uma maior articulação com as atividades de Ensino e de Cultura e Extensão.

O bom desempenho das atividades-fim e atividades-meio só será possível se houver um ambiente propício para que todas as questões a elas pertinentes tenham o envolvimento articulado de estudantes, funcionários e professores. Deve-se incentivar nessa articulação a participação ativa das representações dos organismos institucionais já existentes, tanto nos colegiados, como nas Comissões estatutárias ou assessoras, para a solução de problemas, e a formulação de projetos de interesse desta comunidade acadêmica. O sucesso das várias iniciativas acadêmicas depende de deliberação dos órgãos institucionais e executivos (Departamentos, CTA e Congregação), bem como de apoio na busca de recursos financeiros que viabilizem a execução dos projetos acadêmicos.

O Instituto de Física tem demonstrado competência comprovada em atividades de Cultura e Extensão oferecidas por alguns docentes e grupos de pesquisa. Algumas delas são referências nacionais, como o Professor Ernst Hamburger à frente da Estação Ciência, o GREF ^Ö Grupo de Reelaboração do Ensino de Física e o "Show da Física".

A abrangência do tema Cultura e Extensão permite-nos associar outras atividades a esse elenco. Assim sendo, a partir de discussões poderemos estabelecer, no Instituto de Física, uma política de Cultura e Extensão, que não só utilize as competências disponíveis mas também estimule a pesquisa criativa voltada às grandes questões nacionais, permitindo-nos cumprir as responsabilidades sociais inerentes à nossa condição de instituição pública. Falta-nos também implementar uma Comissão estatutária de Cultura e Extensão.

Entendo que três direções devam ser priorizadas:

As atividades de Cultura e Extensão com qualidade, entretanto, devem ser valorizadas pela Universidade como de caráter inovador e criativo, uma forma legítima e importante de atividade universitária, e não realizadas somente como sacrifício pessoal de alguns docentes. Em suma, devem ser reconhecidas e valorizadas consistentemente com sua enorme importância para a Sociedade.

Parte importante das atividades diárias de uma instituição universitária requer uma série de ações, ou atividades-meio, que são fundamentais para o êxito das atividades-fim de Ensino, Pesquisa e Extensão. Podemos citar, por exemplo, a formação continuada de funcionários, adequação contínua do espaço físico da Unidade, a questão urgente da segurança e a divulgação científica como algumas destas atividades-meio imprescindíveis para o aprimoramento das atividades-fim.

Claramente, há um conjunto muito grande de atividades-meio que devem ser reinventadas ou criadas em nossa Unidade, as quais uma administração isolada não poderá formular e implementar a contento. Deveremos, portanto, criar assessorias que nos permitam resgatar ou formular novas propostas para as atividades-meio, que consideramos prioritárias:

 

  1. Grupo de Recursos Humanos, que deverá contar com participação expressiva de funcionários, para atuar no diagnóstico dos problemas específicos das várias atividades funcionais, implementando uma política de avaliação interna continuada e de promoções. Esta questão nos remete à necessidade de criação de um novo Plano de Carreiras, que é uma reivindicação de todos os funcionários do IFUSP.
  2. Grupo de Espaço, que deverá planejar e propor alternativas para a manutenção e ampliação do patrimônio predial (Biblioteca, Auditórios).
  3. Grupo de Segurança, que atuará no sentido de propor ações viáveis que aumentem a segurança na nossa Unidade articuladas com a segurança do campus universitário.
  4. Grupo de Comunicação, que se encarregará de propor formas de atuação que permitam otimizar o fluxo das informações de interesse específico da Unidade e também de interesse mais geral da comunidade externa à USP (exemplos são o Boletim Informativo, a home page, a divulgação de material didático etc.).

Todas as propostas geradas em decorrência dos trabalhos desses Grupos deverão ser discutidas nas instâncias regimentais (Departamentos, CTA e Congregação) e poderão, futuramente, constituir-se em Câmaras de Trabalho permanentes associadas à Congregação.

Quando defino meu eixo de ação como "Educação com qualidade" refiro-me à construção, no Instituto de Física, de um espaço à escala humana onde a Educação criadora possa desempenhar um papel essencial, onde a necessidade histórica e a realização do nosso ideal coincidem na determinação da realidade futura. Uma realidade futura benéfica para a Sociedade. Para tanto, buscarei reconstruir no Instituto de Física um ambiente de estudo e trabalho adequado aos objetivos, um ambiente onde possa ocorrer soma de esforços e colaboração, onde convergências e diferenças se componham complementarmente.

É para isso que trabalharei, contando com o apoio da Administração desta Universidade e a participação da comunidade do Instituto de Física.

Apelo à comunidade acadêmica no sentido de colaborar com esta nova gestão, formulando críticas, sugestões e se incorporando à administração do IFUSP, participando ativamente nos destinos do Instituto de Física nos próximos 4 anos.

Dentro desse espírito participativo, gostaria de desejar Boa Sorte a todos, deixando aqui consignado o meu empenho, os meus esforços no sentido de contribuir para o aprimoramento do Instituto de Física no futuro próximo.

GIL DA COSTA MARQUES

   

NOTA: Solicitamos o discurso do Magnífico Reitor, Prof. Dr. Adolpho José Melfi, quando da posse do Prof. Gil, porém não o recebemos até o fechamento deste. Publicaremos o discurso do Magnífico Reitor, oportunamente.


B I F U S P - Uma publicação semanal editada pelo IFUSP

Responsável: Prof. Gil da Costa Marques

Diagramação: Rosangela Trevisan Rodrigues

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