ANO XXIII - No.18 - 25/06/2004

ÍNDICE


Bibliotecas da USP: Patrimônio Ameaçado*

Um dos componentes centrais de qualquer instituição de ensino e pesquisa é a facilidade de acesso a informações que a mesma propicia. Mesmo em áreas novas de pesquisa, é comum recorrer-se a resultados e publicações de anos ou décadas atrás, pois a informação científica não é descartável e é da natureza da atividade científica ancorar seu progresso em trabalho anterior. Uma grande amplitude de acesso à informação é essencial às atividades de pesquisa e ensino. Assim, uma biblioteca universitária deve garantir a facilidade de consulta a publicações, recentes ou não, o que só é possível com uma política decidida e permanente de aquisição e manutenção.

O advento de versões eletrônicas, para consulta on-line, de publicações periódicas, embora deva ser saudado como importante passo para acelerar a divulgação de informações científicas, tem tido conseqüências bastante preocupantes e exigido atenção dos formuladores de políticas para bibliotecas científicas de todo o mundo, em particular, das universidades públicas paulistas, como a USP. Tal forma de divulgação não pode, pelas razões que apontaremos, ser encarada como substituto para as tradicionais publicações em papel.

Em primeiro lugar, há a questão da propriedade do material adquirido. Ao abdicar-se de uma assinatura em papel pelo conteúdo eletrônico de uma publicação, abre-se mão da sua posse futura, dado que o acesso, mesmo a publicações passadas, geralmente só será garantido mediante pagamento continuado, como num contrato de aluguel em moeda estrangeira. É duvidoso que em um ambiente de incertezas econômicas esse risco possa ser compensado por eventuais vantagens financeiras momentâneas.

Em segundo lugar, nada garante que os formatos eletrônicos preferidos pelas diversas editoras serão continuados nas próximas décadas. Dada a velocidade das transformações da tecnologia da informação, é temerário adotar políticas firmadas em solo tão instável. Ademais, custos de adequações de formato são tipicamente repassados ao usuário final.

Em terceiro lugar, há a questão da garantia de acesso público às revistas eletrônicas. Bibliotecas como as da USP são públicas e, portanto, não deveriam restringir a consulta ao conhecimento que guardam. Ao adotar um sistema no qual a consulta a publicações periódicas somente pode ser feita a partir de certos computadores cadastrados, essa universalidade de acesso é ferida. O resultado dessa política acarreta, portanto, na troca de um bem-público por um serviço para poucos.

Finalmente, há o perigo de subtração, por parte das editoras, de informações on-line que venham a tornar-se de interesse estratégico e/ou comercial, sem que as bibliotecas tenham controle. Analogamente, ao abrir mão em benefício das editoras de estatísticas de acesso aos periódicos, as bibliotecas e seus usuários perdem controle sobre informações cruciais para elaboração de suas políticas de aquisição.

A despeito das graves questões acima, o Sistema Integrado de Bibliotecas da USP (SIBi/USP), órgão central ligado à Reitoria e responsável pelo gerenciamento de aquisições de todas as bibliotecas da USP, vem tomando medidas que ferem o interesse dos seus pesquisadores, estudantes e da sociedade em geral. De maneira unilateral, apesar de protestos de vários docentes e sob alegação de duvidosas medidas de economia, o SIBi/USP decidiu eliminar duplicações de assinaturas de periódicos impressos que possuam versão eletrônica.

Essa atitude atinge duramente unidades separadas por centenas de quilômetros, como os Institutos de Física da capital e de São Carlos. Em novembro de 2002, o SIBi/USP anunciou que manteria apenas uma assinatura em papel de cerca de cinqüenta publicações com acesso eletrônico da área de Física, outorgando a assinatura da versão impressa à unidade que dispusesse do maior acervo de cada publicação. A unidade "perdedora" passaria a dispor apenas de acesso às versões eletrônicas. Dentre os títulos cortados encontram-se algumas das mais importantes publicações científicas internacionais, tais como Science e Nature.

Tais medidas são míopes, pelo empobrecimento imediato que causam às bibliotecas e por ignorarem os efeitos a curto e longo prazo, mencionados acima. Essas perdas podem tornar-se irreversíveis, caso as medidas não sejam imediatamente revistas e as coleções recompostas.

Durante seus setenta anos, a USP construiu algumas das melhores bibliotecas do país, patrimônio do Estado de São Paulo e nacional. A forma com que o SIBi/USP tem tratado essas questões, ignorando apelos bem fundamentados de pesquisadores da USP, não faz justiça à tradição da nossa Universidade. A USP deve urgentemente rever a estrutura de funcionamento daquele órgão, tornando-o mais sensível ao interesse maior da universidade e da população a que deveria servir.

Luis Raul Weber Abramo, João Carlos Alves Barata, Fernando Tadeu Caldeira Brandt, Renata Zukanovich Funchal, Carla Goldman, Rubens Lichtenthäler Filho, Domingos Humberto Urbano Marchetti, Paulo Alberto Nussenzveig

* Este artigo foi publicado no último dia 21 de junho na seção "Tendências e Debates" da Folha de S. Paulo. Por razões editoriais apenas três dos oito autores, todos docentes do IFUSP, foram incluídos naquela publicação.


Fascismo de esquerda ou falácia de direita?

CEFISMA - Centro Acadêmico da Física da Universidade de São Paulo

Na última semana em reunião da Congregação um grupo de alunos da Física a invadiram reivindicando maior transparência e discussão a cerca da mudança no número de seus representantes. Não discorreremos aqui sobre o mérito desta discussão, mas sim sobre a resposta agressiva escrita no Bifusp pelo professor Sílvio Salinas. Nela os alunos eram acusados de prática do que o filósofo Jürgen Habermas denominou em referência aos acontecimentos de maio de 68 fascismo de esquerda. A legitimidade das assembléias dos alunos foi questionada e as lideranças estudantis foram colocadas entre aspas, acusadas de manipular assembléias e de serem instrumentalizados por professores "nostálgicos da ditadura e das comissões paritárias de 68".

Voltemos a 68. As críticas do filósofo alemão decerto não se referia a um ato (ingênuo talvez) como o ocorrido no dia 8/06. O golpe de retórica da citação esconde que a crítica de Habermas foi feita em momento de um profundo acirramento de posições que levaram Paris a um estado de "semi-revolução", com barricadas espalhadas pela cidade e conflitos violentos. Nada mais distante do que o ato de invadir a Congregação: no limite, uma tentativa dos alunos não de fazer valer suas idéias na "lei ou marra", mas sim de abertura de diálogo e transparência em uma discussão que parecia vital para a representatividade deste movimento em uma Universidade marcada por decisões centralizadas e anti-democráticas. Cabe também ressaltar que o exercício de liberdade das comissões paritárias de 68 tornou-se um marco na luta contra a ditadura militar, e que alunos e professores desta Universidade pagaram caro por isso sendo brutalmente torturados e até mesmo assassinados por um regime que considerava a luta pela democracia "mero ato criminoso".

Digressões anacrônicas costumam esconder a verdadeira razão por trás dos fatos concretos. Se é verdade que hoje vivemos em uma democracia representativa, não é menos verdade que nossa experiência democrática é recente e historicamente pequena. A democracia é uma conquista cotidiana para fazer com que nossos direitos como cidadãos dotados de posições e idéias sejam respeitados em sua integridade, que as entidades representativas tenham força e voz e que os diversos grupos possam se manifestar livremente. As assembléias do CEFISMA tem sido marcadas pelo respeito a idéias divergentes e são amplamente divulgadas em nossos corredores e murais. A primeira assembléia citada pelo professor Salinas não decidiu por paralisar as aulas, mas sim cumprir sua tarefa democrática de informar os alunos sobre a greve e as deliberações da assembléia, convidando-os a discutir em sala de aula qual posição eles iriam tomar frente aos acontecimentos e convidá-los a participar da segunda assembléia que definiria a posição dos estudantes diante de uma greve convocada pelos sindicatos dos professores e funcionários da USP (cabe ao professor Salinas questionar também a legitimidade da Adusp e Sintusp em representar docentes e funcionários).

Vale discorrer ainda algumas palavras sobre a forma como o professor caracteriza o protesto na Congregação. Reivindicar maior transparência se tornou sinônimo de "situações de força conduzidas e estimuladas pelos portadores de todos os tipos de delírios e frustrações" ... "em nome de uma assembléia aberta e democrática". Sim, somos portadores de tal delírio. Acreditamos poder construir no exercício de nossa cidadania um espaço mais democrático e sabemos que tal espaço não é do agrado de quem detêm o poder centralizado em suas mãos.

Cabe mais uma vez lembrar que estamos em um espaço público exercendo nosso direito de discordar e que na impossibilidade de sermos ouvidos, apelamos para instrumentos típicos de manifestações democráticas - por que não lembrar em suas digressões, professor, os apitaços dos estudantes no impeachment, os panelaços contra o regime ditatorial na Argentina e também nossas batidas de panela fazendo muito barulho nas manifestações de Diretas Já? Digressões anacrônicas e juízos de valor simplistas pautados em argumentos de autoridade e sem maior fundamentação histórica geram discursos autoritários que desvalidam grupos de representação eleitos majoritariamente. O conflito é um elemento natural de um regime democrático, pois a política sem polarizações só é possível em regimes autoritários. Nós do CEFISMA, alunos desta Universidade, entendemos que embora sejamos perenes em nossa passagem por aqui, nossa categoria é permanente e tem a obrigação de lutar por um espaço público democrático, questionando a representação ínfima que possuímos frente a Congregação, assim como a dos demais funcionários que não fazem parte do corpo docente, visando um dia uma prática mais humana e justa de discussão. Carregaremos este "delírio" cientes do compromisso que temos com os demais alunos que nos elegeram assim como com a sociedade da qual fazemos parte.


ASSISTÊNCIA ACADÊMICA

A 1a etapa do Processo Seletivo para preenchimento de um claro de Professor Doutor junto ao Departamento de Física Nuclear, em que estão inscritos os Drs. Evaldo Ribeiro, Luiz Guilherme Costa Melo, Paulo Ricardo Garcia Fernandes, Alexandre Alarcon do Passo Suaide, Sérgio Leonardo Gómez, Márcia Maria de Moura, Jun Takahashi, Mônica Santos Dahmouche, Valmir Antonio Chitta, Marcelo Martinelli, Françoise Toledo Reis, Lucas Fugikawa Santos, Eduardo de Moraes Gregores, Marlete Pereira Meira Assunção, Maria Letícia Vega, Leila Thomazelli Thieghi, Gilberto Francisco de Lima, Roberto Morato Fernandez, Luis Humberto Avanci, Sarah Isabel Pinto Monteiro do Nascimento Alves, Ana Cecília de Souza Lima, Gérman Lugones, Cristina Tereza Monteiro Ribeiro, Álvaro Vianna Novaes de Carvalho Teixeira, George Cunha Cardoso, terá início às 9 horas do próximo dia 28 de junho, na sala 207 da Ala I.

 

O Concurso Público de Títulos e Provas para provimento de um cargo de Professor Titular junto ao Departamento de Física Nuclear, em que estão inscritos os Drs. Manoel Roberto Robilotta, Fernando Silveira Navarra, Marina Nielsen e Helio Dias, terá início às 9 horas do próximo dia 30 de junho, na Diretoria. A seguir, os trabalhos terão prosseguimento na sala 207 da Ala I.

 

Estão abertas até 3/12/2004, as inscrições para o Concurso Público de Títulos e Provas para provimento de um cargo de Professor Titular junto ao Departamento de Física Experimental - Ed. AAA/IF/002/2004. Maiores informações na Assistência Acadêmica do IFUSP, ramais 6902 e 7000.


PAE

Comunicado da Comissão PAE

O prazo de entrega dos relatórios dos monitores do programa PAE (monitores B) fica adiado para 6 de agosto.

Celso L. Lima

Coordenador da Comissão PAE-IF


COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO

EXAME DE QUALIFICAÇÃO

As inscrições serão aceitas no período de 2 a 6 de agosto de 2004. Os exames serão realizados na 2a quinzena de agosto de 2004.


TESES E DISSERTAÇÕES

TESE DE DOUTORADO
Ivan Helmuth Bechtold
"Efeitos de superfície e de confinamento na ordem orientacional de cristais líquidos"
Comissão Examinadora: Profs. Drs. Elisabeth Andreoli de Oliveira (orientadora^Ö IFUSP), Antônio Domingues dos Santos (IFUSP), Rosangela Itri (IFUSP), José Alberto Giacometti (UNESP) e Wagner Figueiredo (UFSC)
28/06, segunda-feira, Sala 209, Ala II do Ed. Principal do IFUSP, às 14h.


ATIVIDADES DA SEMANA

2a. FEIRA, 28.06.2004

SEMINÁRIO DO GRUPO DE BIOFÍSICA E FÍSICA MÉDICA
"Por que usar marcadores de spin em micelas?"
Prof. Barney L. Bales, Department of Physics and Astronomy, California State University at Northridge - USA
Ed. Principal, Ala I, sala 204, às 16h


3a. FEIRA, 29.06.2004

SEMINÁRIO DO LABORATÓRIO DE MICROSCOPIA ELETRÔNICA
"Influência da natureza da escória nas propriedades de compósitos cimento-borracha de pneus"
Dra. Nádia Cristina Segre, IQ/UNICAMP
Ed. Principal, Ala I, sala 201, às 15h

SEMINÁRIO DO GRUPO DE HÁDRONS E FÍSICA TEÓRICA (GRHAFITE)
"Sólitons em colisões nucleon-núcleo"
David Augaitis Fogaça, IFUSP
Ed. Principal, Ala II, sala 335, às 17h


6a. FEIRA, 02.07.2004

SEMINÁRIO DO LABORATÓRIO DE MATERIAIS MAGNÉTICOS - DFMT
"Modelagem de transições metamagnéticas em antiferromagnetos"
Thiago Barros Martins, IFUSP
Sala de Seminários do Ed. Mário Schemberg, às 14h


B I F U S P - Uma publicação semanal do Instituto de Física da USP
Editor: Prof. Nelson Fiedler-Ferrara
Secretária: Rosangela Trevisan Rodrigues
Textos e informações assinados são de responsabilidade de seus autores
São divulgadas no BIFUSP as notícias encaminhadas até 4a feira, às 12h, impreterivelmente
Tel: 3091-6900 - Fax: 3091-6701 - e-mail: bifusp@if.usp.br - Home page: www.if.usp.br  

 

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