ANO XXIII - No.36 - 19/11/2004

ÍNDICE


35 ANOS DO IFUSP

Quero, inicialmente, agradecer profundamente a todos que colaboraram na organização e realização dos eventos que marcaram o 35º aniversário do nosso Instituto, bem como o 70º aniversário da USP. Ao longo de três dias procuramos resgatar, antes de mais nada, um pouco da história da Física em São Paulo, a qual tem relação direta com a implantação e disseminação da Física no Brasil.

Graças ao empenho de todos, foi possível realizar, com pleno sucesso, uma série de atividades variadas, nas quais houve uma grande participação de ex-docentes e ex-alunos. Tivemos também a presença e o depoimento de pessoas eminentes que fizeram a história deste Instituto. Com os seus depoimentos, efetivamente recuperamos um pouco da nossa história. Tivemos também importantes depoimentos de Físicos, formados pelo IFUSP, que desenvolvem atividades fora da Universidade, com sucesso, comprovando mais uma vez o papel irradiador do Instituto.

Um dia inteiro do evento foi dedicado à questão da aplicação dos conhecimentos adquiridos na área de Física em benefício da Sociedade; uma ênfase especial foi dada à formação de pesquisadores empreendedores.

Cerca de 2000 pessoas participaram do evento. Isso representa um pouco mais de 1/3 da comunidade IFUSPIANA. Esta é entendida como a comunidade dos atuais (ou ex) funcionários - docentes e não-docentes - e alunos do IF. No livro de presença do evento constam 1633 assinaturas e no do "MUSEU do IF" constam 315 assinaturas.

Como homenagem a dois dos fundadores do nosso Instituto, foram atribuídos os nomes de Gleb Wataghin ao Auditório Norte e Giuseppe Occhialini ao Auditório Sul.

Foi inaugurado o Museu da Física, que engloba um acervo importante, com aparelhos e equipamentos utilizados desde a década de 1930, havendo alguns datados de 1890. O Museu, localizado, atualmente, no Anexo do Ed. Oscar Sala, passará a ser uma exposição permanente, assim que resolvermos o problema do espaço para abrigá-lo, em caráter definitivo.

Para mantermos contato permanente com os nossos ex-alunos criamos o site dos ex-alunos, o qual pode ser acessado no endereço: www.cepa.if.usp.br/ex-alunos, ou através de um link no site do IF.

No encerramento das atividades, foi feita uma singela homenagem a todos os ex-docentes e ex-funcionários atualmente aposentados. E para finalizar, apresentou-se a Orquestra de Câmara da Universidade de São Paulo, com seus 33 músicos, interpretando: Concerto de Brandemburgo, de Bach, sob a regência do maestro José Roberto de Paulo; Idílio de Siegfried, de Wagner, e As Hébridas, de Mendelssohn, os dois últimos sob a regência do maestro Otávio Simões.

Prof. Gil da Costa Marques

Diretor


Gleb Wataghin - setenta anos de física na USP

Na última semana foram comemorados trinta e cinco anos de funcionamento do Instituto de Física no seu atual formato organizacional. A física em São Paulo, no entanto, é bem mais antiga. Como atividade profissional, a física moderna no Brasil iniciou-se com os trabalhos de Gleb Wataghin, recrutado em 1934 na Europa entre os professores estrangeiros que deram início à nova Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.

Essa história é conhecida. Teodoro Ramos, líder da missão paulista na Europa, era intelectual bem informado. Tinha até um texto publicado na França sobre cálculo vetorial. Conta-se que na área da física o objetivo seria recrutar Enrico Fermi, personalidade maior da física européia, que ainda estava em Roma. Fermi indicou o jovem Gleb Wataghin, no início da carreira científica em Turim. Wataghin teria hesitado, consultou vários colegas, mas finalmente foi seduzido pelo desafio, e certamente pelas ofertas sedutoras de Teodoro Ramos. O compromisso foi selado "num célebre restaurante de Roma, na via la Scroffa, onde o macarrão se comia com colher e garfo de ouro puro".

Há uns vinte anos, durante uma das minhas passagens por Pittsburgh, assisti a um colóquio de Freeman J. Dyson, com referências a Wataghin que ainda me impressionam. Dyson é um físico teórico eminente, de origem inglesa, um dos arquitetos da eletrodinâmica quântica, professor no Instituto de Altos Estudos de Princeton, onde trabalharam Albert Einstein e John von Neumann. Embora na época eu não soubesse, Dyson também era autor de rara elegância, refletindo sobre o desenvolvimento da ciência, sobre as contribuições dos seus colegas e contemporâneos. Alguns livros de Dyson, que eu recomendo fortemente, podem ser encontrados em português: "De Eros a Gaia", deve ser o mais antigo; "Infinito em todas as direções", talvez seja o mais recente.

Naquele colóquio em Pittsburgh, Dyson argumentava que novas idéias, ou até mesmo trabalhos seminais, surgem muitas vezes em condições particularmente difíceis ou inesperadas. Contou a história de W. Lawrence Bragg, filho de W. Henry Bragg, que assumiu a direção do Laboratório de Cavendish, em Cambridge, após a morte de Lord Rutherford, um pouco antes da Segunda Guerra. O Laboratório, famoso na época de Rutherford, estava em profunda decadência; como de hábito, o pessoal mais ativo e competente já tinha conseguido partir para outras posições em universidades britânicas. Bragg decidiu que seria impossível reprisar as glórias passadas da física nuclear e decidiu dar ênfase a outras linhas (mais novas, improváveis) de trabalho científico. Foi sob a direção de Bragg que surgiram a biofísica molecular de Perutz (resultando em Crick e Watson) e a radioastronomia de Ryle, com toda uma geração premiada pelo Nóbel. Mais tarde encontrei esta história, em detalhe, num dos capítulos de "De Eros a Gaia".

Outro exemplo citado por Dyson que ainda me impressiona foi "a aventura brasileira" de Gleb Wataghin. John von Neumann, que tinha sido colega de Dyson em Princeton e era amigo de Wataghin, teria tentado convencê-lo de que seria um absurdo abandonar a Europa a fim de recomeçar a vida no Brasil, país longínquo, onde absolutamente não se fazia nenhum trabalho em física. Para ilustrar as suas teses sobre os caminhos da ciência, Dyson aponta o enorme sucesso da decisão de Wataghin pelo Brasil; em condições improváveis, Wataghin conseguiu rapidamente formar um grupo de nível internacional. Dyson observa para aquele público norte-americano que alguns anos depois de sua chegada em São Paulo começavam a aparecer em The Physical Review os primeiros artigos brasileiros de Wataghin, escritos em colaboração com jovens brilhantes, certamente formados no ambiente que ele havia criado. Os artigos dessa época, a partir de 1935, incluindo autores como Damy, Pompéia e Lattes, podem ser obtidos facilmente na rede, numa consulta aos magníficos arquivos online da American Physical Society, que já se estendem até o século XIX!

Nos livros e artigos de Dyson, eu não consegui localizar o registro desse relato sobre a "aventura brasileira de Gleb Wataghin". Mas encontrei diversas referências a Wataghin, às vezes em conexão com von Neumann. Depois da Segunda Guerra, Wataghin teria encontrado von Neumann e perguntado "você ainda está trabalhando nas bombas?" Von Neuman redargüiu, "não, agora trabalho em assuntos muito mais importantes, trabalho em computadores!" Dyson lamenta que, após o falecimento prematuro de von Neumann, Princeton tenha decidido interromper o apoio ao grupo de pesquisa em computadores. As pesquisas na área foram retomadas pela IBM, mas o ambiente em Princeton teria sido muito mais aberto e criativo.

Em um de seus artigos, Dyson refere-se a um trabalho de Wataghin sobre a formação dos elementos químicos dentro das estrelas. Infelizmente, na mesma época, Alpher, Bethe e Gamow propuseram mecanismo diferente, que acabou se tornando muito mais conhecido. George Gamow, espírito jocoso, esteve no Brasil a convite de Wataghin; em trabalho com Mario Schönberg, propôs o famoso "processo Urca", em alusão ao Cassino da Urca, pois tanto os neutrinos estelares quanto as fortunas trocam facilmente de mão. No artigo com Alpher, Gamow teve a idéia de convidar Hans Bethe, que prontamente aceitou, para também assinar como co-autor, a fim de completar o início do alfabeto grego! Apesar de toda a publicidade em torno do artigo de Alpher-Bethe-Gamow, alguns anos depois se percebeu que o mecanismo alternativo de Wataghin é que estava correto!

Enfim, a física moderna em São Paulo teve início glorioso, junto à própria fundação da nossa Universidade. Há 35 anos houve apenas o desmembramento da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, numa época difícil, em pleno recrudescimento do regime militar, depois do AI-5 e das cassações, que atingiram Mario Schönberg e Jayme Tiomno, professores ilustres do velho Departamento de Física, além do próprio líder das reformas na USP, Magnífico Reitor Helio Lourenço de Oliveira. Há 35 anos eu era muito mais jovem e perdi vários colegas e companheiros. Vamos então comemorar Gleb Wataghin e os setenta anos de física na USP!

Silvio R. A. Salinas

Professor do Instituto de Física da USP


COLÓQUIO

"Extreme Events in Nature - a Dynamical Point of View"

Prof. Dr. Holger Kantz, University of Wuppertal and

Max-Planck-Institute for the Physics of Complex Systems, Germany

25 de novembro, quinta-feira, Auditório Abrahão de Moraes, às 16h

Flash floods, storms, stock market crashes, and earthquakes are examples of extreme events with a large impact on our lives. Form a dynamical systems point of view, the ability of a system to generate extreme events is closely related to the complexity of its dynamics, so that the study of extremes is an inherent task of complex systems research. In this talk we will present mathematical and physical considerations for the understanding, prediction and possibly prevention of extreme events, trying to assume a system independent point of view. As a specific example, we will discuss turbulent gusts in surface wind and their predictability.


SEMINÁRIO DE ENSINO

Programa Interunidades de Pós-Graduação em Ensino de Ciências

 

"O caráter da linguagem na pesquisa em Ensino"

Prof. Dr. José Sérgio Fonseca de Carvalho, Departamento de Filosofia da

Educação e Ciência da Educação, FE-USP

23 de novembro, terça-feira, Auditório Adma Jafet, às 16h


CONVITE À FÍSICA

Colóquios dedicados aos alunos ingressantes de 2004

Organizados pelo Departamento de Física Matemática

"Matemática, Física e Criptografia. De Júlio César aos QuBits"

Prof. Paulo A. Nussenzveig, IFUSP

24 de novembro, quarta-feira às 18h

Local: Auditório Abrahão de Moraes, Instituto de Física

Home-page: http://fma.if.usp.br/convite/

Desde que os seres humanos aprenderam a escrever, começaram a usar códigos e cifras. A história da criptografia apresenta uma batalha incessante entre criadores e decifradores de códigos. Nesse colóquio, procurarei descrever um pouco dessa história, que envolveu o destino de monarcas, o resultado de guerras e hoje nos permite realizar comércio através da internet. Até o século passado, os criptógrafos eram lingüistas e pessoas interessadas em quebra-cabeças em geral. Com a mecanização da criptografia na Segunda Guerra Mundial e a subseqüente informatização, os matemáticos passaram a desempenhar papel fundamental. Atualmente, o futuro da criptografia parece estar na Mecânica Quântica, o que tem levado muitos físicos a se interessarem pelo assunto.

Para mais informações sobre o colóquio acima e sobre a programação do segundo semestre de 2004, visite a página web acima.

Os organizadores


CAD

A CAD - Comissão de Avaliação de Disciplinas gostaria de informar que nesta semana estará enviando, a todos os professores, o 2o Questionário referente ao processo de Avaliação Continuada das disciplinas de graduação do nosso Instituto.

Com relação ao 1o Questionário, 129 turmas de alunos participaram do processo.

Os resultados (que podem ser considerados muito bons) já foram contabilizados e são o seguinte:

  • Quanto ao item "Comunicação do Professor na Exposição do Conteúdo", 112 turmas (87%) consideraram que ela é "Boa ou Muito Boa".
  • Quanto ao item "Forma Como a Disciplina está Sendo Ministrada", 114 turmas (88%) responderam que "O Enfoque está na Medida Certa entre Formalismo e Conceito".
  • Quanto ao item "Relação em Sala de Aula", 109 turmas (84%) informam que ela "Favorece a Participação dos Alunos".
  • Nenhum problema grave foi relatado por qualquer uma das turmas. Alguns poucos problemas menores já estão sendo resolvidos.

    Finalmente, queremos aproveitar a oportunidade para, novamente, agradecer a colaboração de todos.


    TESES E DISSERTAÇÕES

    DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
    Melissa Dazzani
    "Uma experiência de avaliação da aprendizagem no ensino médio: a participação dos alunos na reconstrução de seus conceitos químicos"
    Comissão Examinadora: Profs. Drs. Maria Eunice Ribeiro Marcondes (orientadora^ÖIQUSP), Bayardo Baptista Torres (IQUSP) e Gláucia Maria da Silva (FFCLRP/USP).
    25/11, quinta-feira, Sala 209, Ala II do Ed. Principal do IFUSP, às 14h.

    TESE DE DOUTORADO
    René Orlando Medrano Torricos
    "Caos homoclínico no espaço dos parâmetros"
    Comissão Examinadora: Profs. Drs. Iberê Luiz Caldas (orientador - IFUSP), Celso Grebogi (IFUSP), José Roberto Castilho Piqueira (EP/USP), Marcus Aloizio Martinez de Aguiar (UNICAMP) e Thomas Braun (UFRGS).
    26/11, sexta-feira, Sala 209, Ala II do Ed. Principal do IFUSP, às 14h.

    TESE DE DOUTORADO
    David Gregorio Pacheco Salazar
    "Crescimento e caracterização de GaN dopado com carbono e de ligas de InGaN não dopadas na fase cúbica"
    Comissão Examinadora: Profs. Drs. Luisa Maria Ribeiro Scolfaro (orientadora^ÖIFUSP), Valmir Antônio Chitta (IFUSP), Antônio Yukio Ueta (INPE), Fernando Iikawa (UNICAMP) e Evaldo Ribeiro (UFPR).
    26/11, sexta-feira, Auditório Adma Jafet, às 14h.


    ATIVIDADES DA SEMANA


    3a. FEIRA, 23.11.2004

    SEMINÁRIO DO GRUPO DO LABORATÓRIO DE NOVOS MATERIAIS SEMICONDUTORES
    "Crescimento e Caracterização de GaN Dopado com Carbono e de Ligas de InGaN não Dopadas na Fase Cúbica"
    David Gregorio Pacheco Salazar, IFUSP
    Sala de seminários do Ed. Alessandro Volta, às 10h

    SEMINÁRIO DE ENSINO
    "O Caráter da Linguagem na Pesquisa em Ensino"
    Prof. Dr. José Sérgio Fonseca de Carvalho, Departamento de Filosofia da Educação e Ciência da Educação, FE-USP
    Auditório Adma Jafet, às 16h

    SEMINÁRIO DO GRUPO DE HADRONS E FÍSICA TEÓRICA (GRHAFITE)
    "Resonances: Between Short- and Long-Distance Physics"
    Dr. Markus Eidemuller, GRHAFITE-IFUSP
    Ed. Principal, Ala II, sala 335, às 17h


    4a. FEIRA, 24.11.2004

    SEMINÁRIO DO GRUPO DE FÍSICA ESTATÍSTICA
    "Estruturas do Processo de Magnetização em Ultrabaixas Temperaturas: Aventuras de um Grupo Experimental"
    Prof. Nei F. de Oliveira Jr., FMT-IFUSP
    Ed. Principal, Ala I, sala 204, às 14h

    COLÓQUIO DO DEPARTAMENTO DE FÍSICA MATEMÁTICA
    >"Confinamento em Teorias Supersimétricas"
    Prof. Marco Aurelio Cattacin Kneipp, UERJ
    Ed. Principal, Ala II, sala Jayme Tiomno, às 16h

    COLÓQUIO CONVITE À FÍSICA
    "Matemática, Física e Criptografia. De Júlio César aos QuBits"
    Prof. Paulo A. Nussenzveig, IFUSP
    Auditório Abrahão de Moraes, às 18h


    5a. FEIRA, 25.11.2004

    SEMINÁRIO DO GRUPO DE FLUIDOS COMPLEXOS (GFCx) - DFEP
    "10 anos de GFCx"
    Profa. Suhaila Maluf Shibli, IFUSP
    Auditório Adma Jafet, às 11h

    COLÓQUIO
    "Extreme Events in Nature - a Dynamical Point of View"
    Prof. Dr. Holger Kantz, University of Wuppertal and Max-Planck-Institute for the Physics of Complex Systems, Germany
    Auditório Abrahão de Moraes, às 16h


    B I F U S P - Uma publicação semanal do Instituto de Física da USP
    Editor: Prof. Nelson Fiedler-Ferrara
    Secretária: Rosangela Trevisan Rodrigues
    Textos e informações assinados são de responsabilidade de seus autores
    São divulgadas no BIFUSP as notícias encaminhadas até 4a feira, às 12h, impreterivelmente
    Tel: 3091-6900 - Fax: 3091-6701 - e-mail: bifusp@if.usp.br - Home page: www.if.usp.br  

     

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