ANO XXIII - No.37 - 26/11/2004

ÍNDICE


Universidade democrática é meritocrática

Herch Moysés Nussenzveig 2

Às vésperas da remessa ao Congresso do projeto do MEC sobre reforma universitária, concepções equivocadas da relação entre democracia e universidade ameaçam o futuro das universidades públicas brasileiras. São exemplos as propostas de eleição direta de reitor e do sistema de quotas, incluídas no projeto, e a aceitação pelo MEC das pressões contra o "produtivismo" ao negociar com sindicatos docentes.

Numa sociedade democrática, a educação deve dar igual oportunidade a todos para desenvolver plenamente suas aptidões, de forma compatível com o bem-estar da coletividade. Isso não significa "universidade para todos", entendendo por universidades instituições de ensino e pesquisa como nossas melhores universidades públicas.

Uma boa formação universitária custa caro, especialmente em carreiras como medicina. Ensino universitário público "gratuito" e de qualidade tem de ser sustentado pelos contribuintes, com grande sacrifício num país como o nosso. A justificativa para isso só pode ser a extrema importância para o país de privilegiar tal tipo de formação. Daí decorre a necessidade imperiosa de empregar esse investimento da melhor forma possível: para ser democrática, a universidade pública tem de ser meritocrática. Isso vale para docentes, discentes e funcionários.

Princípios análogos foram enunciados na França, em 1947, por Paul Langevin e Henri Wallon, constituindo o que foi chamado de "elitismo republicano". A "elite republicana" não é selecionada por critérios de fortuna ou étnicos, mas tão-somente pelo mérito. Como bem se pronunciou um estudante negro que não apelou para quotas na Uerj e foi preterido em benefício de outros com pontuação menor: "Para mim, faculdade é lugar de excelência, para quem tem mérito".

Análises estatísticas rigorosas de políticas de ação afirmativa encontram-se na recente coletânea "Meritocracy and Economic Inequality", de que participaram os Prêmios Nobel de Economia Kenneth Arrow e Amartya Sen. Uma das recomendações é que se igualem as oportunidades educacionais para todos até a conclusão do ensino médio; daí por diante, deve prevalecer o princípio da não-discriminação. Igualar oportunidades educacionais significa não só disponibilizar ensino público de qualidade mas também fornecer assistência no ambiente familiar e comunitário, que influencia fortemente o desempenho educacional. Em relação às universidades, é altamente recomendável maximizar a diversidade do corpo discente, sem sacrificar a qualidade.

"Universidade democrática" não significa, portanto, aquela em que docentes, discentes e funcionários elegem o reitor por voto paritário, em que há isonomia salarial entre todos os docentes da mesma categoria, independentemente de critérios "produtivistas" de desempenho, como pleiteiam sindicatos docentes. Esse "igualitarismo de fancaria", na expressão do grande matemático francês e corajoso militante de esquerda Laurent Schwartz, remete aos idos de maio de 1968, quando alguns experimentos desse gênero foram ensaiados e rapidamente malograram.

A eleição direta e paritária de reitor seria uma singularidade brasileira: nenhum país, incluindo os de regime socialista, adota tal procedimento. A atual legislação para escolha, através de lista tríplice, já é burlada por "consultas amplas" em que se emulam as piores práticas da política partidária. Poderíamos adotar, isso sim, o procedimento civilizado de um comitê de busca, inclusive fora da universidade, a exemplo do que já se faz em institutos do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Para maximizar a eficiência de utilização das verbas públicas deve prevalecer, em todos os aspectos do funcionamento e gestão das universidades, a hierarquia do mérito e da excelência acadêmica, palavras que constituem anátema para as hostes sindicais. Igualmente execrados por elas são acompanhamento e avaliação externa permanentes, contrapartida "sine qua non" para uma responsável autonomia de gestão. O horror à avaliação externa é ilustrado pela repulsa à GED, gratificação que estabelecia uma distinção entre docentes com base no desempenho. A GED não foi atacada pelo que tinha de ruim -os critérios e procedimentos burocráticos empregados na avaliação-, mas pelos seus méritos, por ousar avaliar, recompensando o "produtivismo"!

Outro sintoma da "avaliofobia" é a estabilização precoce e, na prática, permanente de docentes recém-contratados, sem julgamento criterioso, com predominância externa, do seu desempenho no curto período probatório. É também excepcional que se cumpra com rigor o acompanhamento externo indispensável para justificar a permanência no regime de dedicação exclusiva.

Monteiro Lobato dizia: "Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil". A saúva das universidades públicas é o corporativismo personificado nos sindicatos docentes. Os muitos docentes dedicados e produtivos, que não têm tempo nem paciência para agüentar a politicagem e as manobras nas minguadas assembléias, não são representados por essas associações. Já é hora de nos livrarmos dessa praga.

1 Artigo publicado em 12/11/2004 na seção Tendências/Debates do Jornal Folha de São Paulo. Sugerido para publicação pelo Prof. Raul Abramo, Departamento de Física Matemática.

2 Herch Moysés Nussenzveig, físico, é professor emérito da UFRJ e membro titular da Academia Brasileira de Ciências. Laureado com o prêmio Max Born da Optical Society of America, foi professor e pesquisador visitante do Instituto de Estudos Avançados de Princeton (EUA).


COLÓQUIO

"OBSERVANDO NOVAS PARTÍCULAS NA DESINTEGRAÇÃO DO CHARM:

O CASO DOS MÉSONS SIGMA E KAPPA"

Prof. Dr. Ignácio Bediaga

Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)

2 de dezembro, quinta-feira, Auditório Abrahão de Moraes, às 16h

Analisando o decaimento fraco do méson charmoso D+ em três píons carregados, obtivemos fortes evidências experimentais da existência do méson escalar Sigma proposto por vários trabalhos teóricos no início da década de 60, no entanto, sem observações diretas da sua existência. Usando a mesma técnica na desintegração do D+ em um kaon carregado e dois píons, apresentamos evidências da existência do méson escalar estranho Kappa. No colóquio será discutido o método usado de análise de amplitudes, bem como as etapas necessárias para a produção e desintegração de partículas em aceleradores. Ao final do mesmo, apresentaremos recentes resultados experimentais, confirmando a existência do méson Sigma na desintegração de outras partículas massivas.


SEMINÁRIO DE ENSINO

Programa Interunidades de Pós-Graduação em Ensino de Ciências

"Apresentação dos Projetos de Pesquisa dos Alunos"

30 de novembro, terça-feira, Auditório Adma Jafet, às 14h

 

Aluno: Orientador: horário

Diogo Lotito de Carvalho José Luciano Miranda Duarte 14:00-14:45

Helio Elael Bonini Viana Paulo Alves Porto 14:45-15:30

INTERVALO

Roberta Martins Miranda Maria José Bechara 16:00-16:45

Monica Maria Biancolin Nelson Fiedler Ferrara Júnior 16:45-17:30


SEMINÁRIO CAÓTICO

"Uma Abordagem Relativística para o Problema Restrito de Três Corpos"

Eduardo Gueron, Imecc - UNICAMP

1o de dezembro, quarta-feira, Auditório Adma Jafet, às 13h

Uma hamiltoniana que aproxima o problema de três corpos em Relatividade Geral é obtida. Nós a aplicamos para estudar a versão relativística do problema restrito e circular em que o primeiro corpo é o mais pesado e o terceiro, uma partícula de teste. Focalizamos o estudo em órbitas em torno da ressonância 3:2. Mostramos que, a despeito da notável diferença entre as órbitas relativísitcas e newtonianas, as regiões de ressonância são, em geral, preservadas. No entanto, diferentemente do caso newtoniano, a razão das frequências entre o segundo e o terceiro corpo não é mais comensurável.

http://www.if.usp.br/caos


CONVITE À FÍSICA

Colóquios dedicados aos alunos ingressantes de 2004

Organizados pelo Departamento de Física Matemática

"99 anos de Relatividade"

Profa. Renata Zukanovich Funchal, IFUSP

1o de dezembro, quarta-feira, às 18h

Local: Auditório Abrahão de Moraes, Instituto de Física

Home-page: http://fma.if.usp.br/convite/

Em 1905, Albert Einstein publicou dois trabalhos na "Annalen der Physik", uma das revistas científicas de maior prestígio na época, que revolucionariam a noção de espaço e de tempo na Física. Nascia assim a Teoria da Relatividade Restrita (ou Especial) que teve profunda influência na Física do Século XX.

O que é a Teoria da Relatividade Restrita? Como Einstein foi levado a formular essa teoria? O que mudou na Física com a Relatividade? O que é e o que não é relativo na Relatividade? Quais suas conseqüências mais importantes? Existem evidências experimentais? Essas serão algumas das questões que serão abordadas neste colóquio.

Ao final será apresentada a programação do "Convite à Física" do ano de 2005.

Para mais informações sobre o colóquio acima e sobre a programação do segundo semestre de 2004, visite a página web acima.

Os organizadores


LANÇAMENTO DE LIVRO

Convido a todos para o lançamento do livro de ficção, romance-espionagem que dar-se-á no dia 3 de dezembro próximo, nas dependências do Auditório Abrahão de Moraes, às 14 horas com tarde de autógrafos até às 18 horas.

Estarão presentes ao lançamento o Diretor do IF, Prof. Dr. Gil da Costa Marques e autoridades da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), da ACADEPOL (Academia de Polícia), do 16º BPMM, entre outras.

Conto com sua presença.

José Francisco Soares1, o autor

1 Funcionário do IFUSP.


ATIVIDADES DA SEMANA


3a. FEIRA, 30.11.2004

SEMINÁRIO DE ENSINO
"Apresentação dos Projetos de Pesquisa dos Alunos"
Auditório Adma Jafet, às 14h

SEMINÁRIO DO LABORATÓRIO DE MICROSCOPIA ELETRÔNICA
"Desenvolvimento de metodologias para avaliação de desempenho de cosméticos"
Dra. Inés Joekes, Instituto de Química - UNICAMP
Ed. Principal, Ala I, sala 201, às 15h


4a. FEIRA, 01.12.2004

SEMINÁRIO CAÓTICO
"Uma abordagem relativística para o problema restrito de três corpos"
Eduardo Gueron, Imecc - UNICAMP
Auditório Adma Jafet, às 13h

SEMINÁRIO DO GRUPO DE FÍSICA ESTATÍSTICA
"Efeitos da desordem na microsegregação de fases dos copolímeros de dibloco"
Harry Westfahl Jr., Laboratório Nacional de Luz Síncrotron - Campinas
Ed. Principal, Ala I, sala 204, às 14h

COLÓQUIO DO DEPARTAMENTO DE FÍSICA MATEMÁTICA
"Nuclei and Mesoscopic Physics - Workshop 2004"
Prof. Adam James Sargeant, IFUSP
Ed. Principal, Ala II, sala Jayme Tiomno, às 16h

COLÓQUIO CONVITE À FÍSICA
"99 anos de Relatividade"
Profa. Renata Zukanovich Funchal, IFUSP
Auditório Abrahão de Moraes, às 18h


5a. FEIRA, 02.12.2004

COLÓQUIO
"Observando novas partículas na desintegração do Charm: O caso dos Mésons Sigma e Kappa"
Prof. Dr. Ignácio Bediaga, Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)
Auditório Abrahão de Moraes, às 16h


6a. FEIRA, 03.12.2004

FÍSICA AO MEIO-DIA
"Produções de entropia em sistemas estocásticos fora do equilíbrio"
Leonardo Crochik, IFUSP
Ed. Principal, Ala I, sala 204, às 12h30


B I F U S P - Uma publicação semanal do Instituto de Física da USP
Editor: Prof. Nelson Fiedler-Ferrara
Secretária: Rosangela Trevisan Rodrigues
Textos e informações assinados são de responsabilidade de seus autores
São divulgadas no BIFUSP as notícias encaminhadas até 4a feira, às 12h, impreterivelmente
Tel: 3091-6900 - Fax: 3091-6701 - e-mail: bifusp@if.usp.br - Home page: www.if.usp.br  

 

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